sábado, 8 de outubro de 2011

Amizade amarga

Ninguém pede pra ser amigo. Eu pelo menos, não lembro jamais de ter chegado para uma pessoa e ter dito:

- Vamos ser amigos?

Amizade é algo maravilhoso porque surge de forma espontânea. Ninguém é amigo por obrigação, a isto chamamos de coleguismo. A amizade mesmo, aquela em que os seres sentem-se cúmplices de todas as situações – boas ou ruins, cedo ou tarde, sóbrio ou bêbado –  são raras, por isso mesmo devem ser cultivadas.

Mas não quero falar do lado bom da amizade. Por incrível que possa parecer, este sentimento pode sim ter um gosto amargo. Sabe quando? Quando a amizade vira uma paixão unilateral.

Conhecemos os amigos nas mais diferentes situações, e sem perceber estamos lá, rindo juntos, trocando confissões, falando de outros amores, trabalho, futuro, chorando juntos, ou simplesmente deixando o outro chorar e dizendo: “calma, vai dar tudo certo”. Mas, eis que de repente você se dá conta de que aquela pessoa ao seu lado pode ser mais que uma amiga. Afinal, ela divide tudo com você, desde a notícia de uma boa nota na faculdade a uma discussão braba em casa porque o pai não concorda que ela com 18 anos esteja saindo com um cara de 40 alegando que ele é demais para você( no fundo a gente concorda com o pai da amiga, mas fazer o que né? – Calma, vai ficar tudo bem!).

De tanto dividir com sua amiga você descobre que é hora de que aquele sentimento pode ser somado, multiplicado, mas aí vem a subtração.

- Não podemos ser só amigos? – ela diz assim, diminuindo seu sentimento à pura e simples amizade.

É nessa hora que dá vontade de dizer.

- Não, não dá! Você não entende?

Mas covardemente você não diz.

- Entenda: a gente é tão amigo!!! – é sempre o mesmo ultimato!

- E você já viu alguém namorar inimigo? – esta frase já é de quem está beirando ao desespero.

- Amizade, pode ser? O que sentimos é puro e verdadeiro – ela setencia.

Pura falsidade! Não sei se da parte dela ou da minha. Eu por concordar com aquela situação, mesmo torcendo contra todo tipo de relacionamento que ela venha a ter.

- Sabe o Paulão?

- Aquele seu colega de faculdade? Sim, claro que sei! Assumiu que é gay?

- Não, na verdade... Estamos namorando!

- Ah?! (Putz, logo ele)...Que bom! Ele é um cara muito bacana.

Bacana não! Um tremendo de um sacana! Dia desses flagrei ele entrando em uma boate freqüentada por pessoas “alternativas” com dois caras, mas se é pra manter a amizade, melhor ficar calado.

A garota também acaba sendo um pouco egoísta, pois caso o relacionamento não dê certo, pelo menos o “amigo” estará ali. Por isso ela quer tanto a sua amizade! É o tal porto-seguro a qual você sempre vai recorrer nos momentos mais turbulentos dessa viagem chamada vida.

E assim aquela “amizade” de gosto amargo continua. Você fingindo que torce pela felicidade dela, mas na verdade está mesmo é esperando que ela te dê uma oportunidade. E ela sempre dizendo:

- Vamos continuar sendo amigos, né?

- Claro, sempre!