quarta-feira, 29 de junho de 2011

C.R.I.S.

O maior mistério da humanidade não é se existe vida em outros planetas. Muito menos a eterna pergunta de onde viemos e para onde vamos. Engana-se quem pensa que é: será que conseguirei pagar minha fatura de crédito no final desse mês? Pra mim, o maior mistério da humanidade é: o que se passa na cabeça de uma mulher? Oh, negocinho complicado esse!

Dia desses comentei com uma amiga.

- Vocês deveriam vir com um manual de instruções!

- Amigo, nem a gente se entende! – respondeu sabiamente, como elas sempre são.

É, se nem elas conseguem se decifrar, imagine o que significa essa tarefa para nós homens.

Foi tentando entender o comportamento da Cris que me deparei com o maior mistério da humanidade. Como é que um ser tão bonitinho, tão pequenininho, pode ser tão complicadinho?

Não conseguia entender as mudanças de comportamento, as aproximações e os sumiços, o abraço e a palavra mais dura, a admiração e a chateação, nada disso. Ficava me questionando por que. Onde estará o erro? Será de fabricação? Ou seria eu que não aprendi a manusear tão bem? Existiria mesmo um erro? Enfim...

Mas foi aí que descobri que Cris não era um nome. Muito menos um apelido carinhoso com o qual ela gostava de ser identificada. CRIS é um código que ainda estou tentando decifrar. Ela deve ser um produto fabricado por uma dessas agências secretas do governo criado com o único objetivo de me confundir. Não é a Cris é o C.R.I.S. O que significam as iniciais desse código?  Será que represento uma ameaça tão grande assim, a ponto dessa arma secreta ter sido criada só para me confundir?

Quando fomos apresentados – em uma terça-feira de Carnaval – a C.R.I.S. era a: Carismática, Risonha, Inteligente e Simpática. É claro que me encantei. Mas não demorou muito para aquele código começar a se transformar em um quebra-cabeças.

Foi em uma TPM que descobri  que a C.R.I.S. poderia ser Carrancuda, Ranzinza, Impaciente e Sarcástica. Mas essa não era a fase que mais me chamava a atenção. O que ela era mesmo era contraditória. Quem sabe Carinhosa, Raivosa, Inconseqüente e Sábia. Não, não poderia ser...

Eu tinha de descobrir aquele código! Aquelas quatro letrinhas poderiam até não ter um significado tão claro para mim, mas já tinham dado um novo significado para a minha vida. Com ela eu me sentia mais Carinhoso, Responsável, Inovador e Seguro.  Era o código tomando conta de mim.

A verdade disso tudo é que independente do que venha a ser significado do C.R.I.S., pra mim ela vai ser sempre a Cris. Assim mesmo, cativante, rara, instigante, sensacional e todas as demais qualidades e (e por que não) defeitos que cabem em todas as mulheres.


Nota do Baixinho: Esse texto foi publicado inicialmente no blog O Beijo - http://obeijo.wordpress.com/ - da pessoa que me inspirou para que ele fosse escrito. Como ela publicou de lá, eu resolvi publicar daqui! Espero que gostem!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O bom português

Cansado de relacionamentos improdutivos, resolvi colocar um ponto final em todas as vírgulas que apareceram na minha vida. Chega das dúvidas das interrogações, das surpresas das exclamações e das incertezas das reticências. Quero algo mais concreto! Nada do tipo: oração subordinada substantiva completiva nominal. Quero algo simples! Deixar de conjugar os meus verbos na incerteza do futuro do pretérito e viver algo no presente do tipo mais-que-perfeito. Se esse tempo verbal não existe, quero viver um neologismo, algo novo, porém só meu.

Apaixonado pela língua portuguesa como sou, resolvi criar uma fórmula para fugir daquilo que mais me irritava em uma mulher: os erros de português.

Tudo começou com a Clarinha. Linda, educada, extremamente gentil.

- Um doce! – Dizia a mamãe.

Mas houve aquele fatídico jantar na casa de um casal de amigos. Até então, eu já havia percebido alguns erros de concordância na fala da Clarinha, mas naquele dia ela ultrapassou todos os limites da minha paciência.

Tudo começou quando, sem querer, Clarinha derrubou o copo de cerveja que trazia gentilmente para mim da cozinha. O barulho assustou os três que estavam na sala.

- O que foi isso?  - perguntei.

- Nada, “foi” eu que derrubei o copo!

- Como? (Mais que a tragédia de um copo quebrado e a cerveja derramada no tapete importado dos nossos anfitriões, o que me chamou atenção verdadeiramente foi aquele “foi”. Por isso que insisti na pergunta, afinal barulho de um copo caindo ao chão não precisa de uma explicação tão profunda).

- “Foi” eu, amor! Derrubei um copo no chão!

- Não, Clara (O diminutivo carinhoso já foi pro espaço). Fui eu!

- Você também derrubou?

- Não, Maria Clara (Quando o cara fala o nome dela completo é que o negócio complicou ainda mais). O certo é “fui eu”.

- Como é que é? Você acha certo quebrar um copo?

- Maria Clara dos Santos (Xii.. sem comentários). O verbo ser na primeira pessoa do singular do pretérito perfeito é “fui”. Então o certo é “fui eu”.

- Ah, tá! Mas por que essa irritação toda? Besteira!

- Claro que não, Clarinha! Isso é português!

- Então é pra “mim” falar como?

- Não, Maria Clara! Não! É para “eu falar”!

- Mas você já não fala, amor?

- Quando o verbo é no infinitivo não se usa “mim”, mas “eu”.

- Usar você pra que mesmo?

- Ai, ai, já chega! Não dá mais!

- Mas o que foi, agora? Olha, “fazem” três meses que estamos juntos e nunca “lhe” vi desse jeito. Ou você vai esquecer todos os momentos maravilhosos que “houveram” entre nós?

Não sei se a quantidade de erros era fruto do nervosismo dela, ou se aquela era ela mesmo. Enfim, foi a última frase que ouvi dela. A Clarinha apagou-se definitivamente da minha vida.

Para evitar futuros constrangimentos, resolvi criar uma tática da carta ou bilhete de amor. Digo sempre para a minha pretendente.

- Nunca recebi uma carta de amor.

- Nunca mesmo?

-Nem um bilhetinho!

- Ah, pode deixar que escrevo uma para você!

Pouco me interessa o conteúdo, estou mesmo interessado no português. A língua portuguesa bem falada e escrita é fundamental para qualquer relacionamento, pelo menos para os meus. Faço a análise morfossintática de cada frase. Em cada oração bem construída vou descobrindo um pouco mais da mulher de minha vida. Observo cada vírgula, cada ponto. Erro de ortografia significa fim de relacionamento, assim mesmo no ato.

Mas um texto perfeito, bem concatenado, de preferência com citações de poetas e grandes escritores, significa que aquele imbróglio pode ir muito além de uma carta de amor.  

Será que ainda vou ter de ler muito?