sexta-feira, 20 de julho de 2012

Sintonia

Hoje, dia do amigo, marco um almoço com Elton Viana. Mando pelo Facebook: “12:30 lá naquele restaurante mesmo, né?”. “Isso”, ele responde. Tudo acertado! Chego na hora marcada e não vejo o baixinho. “Normal. O trânsito de Fortaleza nunca é fácil!”. Às 12:40, ligo para o celular dele. Chama, chama e ninguém atende. Espero mais dez minutos e faço outra tentativa. Novamente, nada.

“Esse anão filho da mãe! Deve tá perdido e ainda não atende a porra do celular!!”. Fico logo puto e vou almoçar. Encho o prato mais que o normal pra ainda estar comendo quando a criatura chegar. “R$ 29,12?!?! Eu bati em algum garçom, minha senhora?!”. A mulher sorri achando que eu estava brincando. Enquanto ela tirava a notinha, eu procurava quais daquelas folhas de alface tinha chumbo. “Terei que deixar um rim aqui e ainda vou almoçar sozinho. Elton, viado!”.

Comi até as espinhas do peixe. Terminei o almoço e o substrato de gente não teve a ombridade de ligar ou mandar uma mensagem para dizer o que aconteceu. “Estranho. Ele não é disso! Será que o chefe dele chamou de última hora? Mas nem uma mensagem? Pensando bem, ele disse que já tava saindo.

Será que aconteceu alguma coisa no caminho? Mas nem um telefonema? E se foi grave? E se ele sofreu um acidente no caminho? E se um carro desgovernado bateu no dele e ele ficou inconsciente e sangrando no meio da rua? E se tentaram assaltá-lo, ele reagiu e o levou uns tiros? E se ele morreu?!

PQP! O cara morreu em um acidente de carro no caminho do restaurante! Pronto, foi isso!! Caralho, será que eles liberam o corpo hoje?! Depende se foi acidente ou latrocínio. Porra! O cara acabou de assumir um relacionamento sério no Facebook e já morreu! A vida é foda mesmo. Além disso, deixou um filho.

PQP!!! O João vai crescer sem pai! E era um bom pai ainda por cima. O corpo deve ser liberado ainda neste fim de semana. Vou ter que desmarcar a casa de praia. Porra, mas é o Elton! Não vou deixar de ir ao enterro dele. 'Pois é, eu tava esperando ele pra almoçar e fiquei sabendo depois. Muito triste isso!', vou falar pra pessoas no velório.”

Enquanto pensava tudo isso e na roupa que eu iria usar no velório (uma camiseta preta de botão bem legal que eu tenho), o meu celular toca. Número desconhecido. “É agora. Alguém ligando pra confirmar”, imaginei. No outro lado, só escuto um “Cadê tu, Cretino?!”.

Eu tô aqui voltando do almoço sozinho. Por que você não veio, filho da mãe?!

Eu vim. Tô aqui no japonês!

Que japonês?! A gente sempre almoça no Nosso Fogão.

Nããão! É sempre no japonês. Tá todo mundo aqui.

Pois vai se lascar!!!

Sintonia entre amigos é isso aí, só que ao contrário! :P

Texto escrito pelo meu grande amigo Antino Cretino!

terça-feira, 10 de julho de 2012

Amores imperfeitos

Deve existir um item no 40º volume do manual “Como entender a cabeça do ser humano” que está escrito: quando todas as culpas do mundo não couberem mais em uma pessoa, vire a carga para si. Para não parecer confuso aqui vai o exemplo.

No auge da discussão, ela já usou praticamente todo o repertório de palavrões do mundo contra ele, que por incrível por pareça conseguiu rebater– com provas – todas as acusações, aí vem a frase clássica:

- Sabe o que é? O problema não é você, sou eu!

Nessa hora dá vontade de dizer.

- Eu sabia!

Ou então:

- Se sabia disso, por que não me avisou antes que não tinha inventado tanta desculpa esfarradapa?

Mas com o Alfredo aquilo não podia acontecer. Ele era perfeito demais. Era do tipo: “Genro que toda sogra sonha em ter”, “Pai exemplar”, “Marido fiel e companheiro” (Antes do Alfredo eu realmente não acreditava que ele existisse), enfim todas as qualidades que um homem poderia ter e nenhum defeitozinho de fabricação. Mas isso não foi suficiente para a Doralice chegar pra ele e dizer:

- Não dá mais, Alfredo!

- O que, meu amor?

- Nosso casamento.

- Mas o que aconteceu? O que eu fiz de errado que te deixou desse jeito?

- É exatamente isso que me incomoda: você é certinho demais.

- Então estou errado por ser certinho demais, é isso?

- É! É isso. Fico sufocada. A gente não briga. Você me entende sempre mesmo quando estou de TPM e mando você ir dormir no sofá duro da sala. Ou quando a mamãe me liga querendo desabafar sobre os problemas dela. E com as crianças então? Aí é que não vejo você ter problemas mesmo. Vejo os maridos das minhas amigas que nem sabem trocar uma fralda e você...

- Eu o quê? Não troquei direito as fraldas do Pedrinho? Vazou foi?

- Não é isso! Já disse: você é perfeito demais. Nem a fralda vaza, nem o Pedrinho cai, o Rafael te acha um super-pai porque você não teve vergonha alguma de imitar o Tchutchucão na escola e até com a Maria Clara, que já é uma adolescente, você jamais teve sequer uma discussão....

- E isso é ruim? Se for o caso eu mudo!

- É ruim, mas não quero que você mude. É ruim pra mim e não pra todo mundo. Entende?

- Sinceramente? Não!
- Alfredo, por exemplo, onde estão teus amigos hoje?

- Toda quarta-feira tem um joguinho de futebol depois do expediente. Acredito que a turma toda esteja lá. Por quê?

- Pois é, por quê? Por que quando eu chego em casa em uma quarta-feira à noite, as crianças já têm tomado banho, o jantar – que você mesmo fez - já está feito e servido e até o meu banho com sais já está pronto? Por quê? Isso tudo me sufoca, Alfredo. Quero espaço, discutir com você e depois a gente reatar fazendo amor loucamente, mas a gente não briga. Você é muito perfeito para uma pessoa cheia de imperfeições.

- Mas, meu bem. Eu gosto de estar em casa e cuidar de você e das crianças.

- Chega! Para!

- Pois me diz o que você quer?

- Eu quero ter ciúmes de ti, ter raiva de você, quero que você grite comigo às vezes, diga que minha mãe é insuportável...

- Epa! Não admito que você fale mal da tua D. Socorrinha. Não na minha frente!

- Tá vendo? É isso Alfredo! Chega não dá mais!

- E o que você quer então?

- Quero que saia de casa!

- Tá bom!

- Como assim “tá bom”? Tá ruim, isso sim!

- Você quer discutir comigo, é isso?

- É isso aí! Chegou onde a gente queria.

- A gente não, né? Você. Não há motivos para discutir. E mais, você deve ter tido um dia difícil e está querendo ficar um pouco só. Eu entendo.

- Entende é?

- Claro. Todos nós temos dias assim...

- Você parece que não tem dias ruins. Sabe o que é, Alfredo? O problema não é você, sou eu!

- Você? Não. Doralice você não tem defeitos, pelo menos não aos meus olhos.

- Ahhhhh! Para! Chega! Sai agora!

- Deixa pelo menos...

- Agora!

E Alfredo saiu de casa tentando entender porque Doralice chegara tão estressada em casa. Teria feito algo errado? O jantar que ele colocara na mesa não era o que ela gostava? Mas tinham duas opções.... Será que uma das crianças tinha reclamado dele? Impossível. Era tudo perfeito demais... Doralice encontrara a imperfeição na perfeição.

domingo, 1 de julho de 2012

Jogada desleal

Há dias Augusto César andava inconsolável. E só há duas coisas que abalam tanto emocionalmente os homens. Uma delas é quando seu time perde o campeonato que não vence há anos com um gol improvável aos 45 minutos do segundo tempo. A outra, claro, é uma desilusão amorosa.

Os últimos dias não foram lá muito felizes pro nosso querido amigo. Nosso time há anos não era campeão do grande campeonato de futebol do bairro do Limoeiro. Pra ele, que jogava como zagueiro, perder aquela competição foi pior que a morte de um parente próximo. Se isto acontecesse, boas recordações permaneceriam. Mas daquele jogo, a lembrança foi a mais amarga possível.

Final de jogo, nada de gols e a certeza de que na cobrança de pênaltis o nosso goleiro Zé do Frango (que tinha esse nome não por ser frangueiro, mas por ter um bar que vendia galeto assado) era bem melhor que o “Baixim” do time adversário. 

Aí veio o grande momento: bola levantada na nossa área. O Augusto César, que era zagueiro e conhecido como Cesão, grita:

- Deixa comigo!

Só que ao invés de jogar a bola pra fora da área, ele rebateu da dentro da própria meta. Gol do adversário! Pior que a decepção foi o atacante do time adversário que usava óculos falar bem alto.
- Obrigado, Cesão! Pena que pra vocês a fila não anda.

Nosso amigo estava tão transtornado com o que fizera que nem reação teve pra dar uns sopapos no “Ceguim”. Mas o pior ainda estava por vir.

Futebol de várzea ou acaba em confusão ou em churrasco. Pra levantar a moral do nosso estimado zagueiro, fomos pra casa do Paulinho das Vassouras (pelo nome dá até pra saber com o que ele trabalha), nosso técnico.  Carne pra cá, cervejinha pra lá, todo mundo evitando falar do maldito gol, até que a mulher do Paulinho veio da cozinha com uma amiga que fez com que o Cesão tirasse aquela cara de choro do rosto e pela primeira vez esboçasse um sorriso.

- O que é aquilo, meu irmão?

- Ah, rapaz! É costelinha de porco!

- Não, cara. Me refiro a quem está trazendo a costelinha de porco.

- Uh, rapaz! Que coisa gostosa!

- Peraí, eu vi primeiro.

- Tô falando da costelinha, Cesão. A mulher é a Jandira, que mora logo ali na rua de trás.

Ah, a Jandira! Ficava servindo e provocando o Cesão durante todo o churrasco. Mas zagueiro bom mesmo não aceita provocação e ele não demorou a chegar junto.

- Oi, tudo bem?

- Olá, você é aquele que no jogo de agora a pouco fez o gol do campeonato, né?

- Sim, fui eu mesmo, por quê? – falou Cesão já com o tom de voz alterado, afinal ninguém tinha tido coragem de tocar no assunto.

- Porque eu fiquei com uma peninha de você. Pra quem jogou tão bem, não merecia ser premiado com aquele gol contra.

- Humrum, sei...

- Você gosta de fazer marcação “homem-a-homem”? Tá a fim de me marcar?

- Nossa, você é direta.

- Não fico esperando por um gol contra aos 45 minutos do segundo tempo. Gosto de decidir logo.

E saíram decididos a viver uma grande história de amor. Por causa de Jandira, Cesão até aceitava brincadeiras sobre o fatídico gol. Foram dias em que o zagueiro vivia momentos de glória. Mas o que ele não esperava era que Jandira fizesse uma jogada desleal com ele.

- Não dá mais, Cesão!

- Como assim?

- Aquele gol contra me persegue.

- Te persegue? Como?

- Todo mundo pergunta por ele. Quer saber o que aconteceu com você naquele dia e mais, perguntam como eu posso namorar uma pessoa que deixou o Limoeiro mais um ano na fila.

- Mas, Jandira a gente se ama.

- Amo você mesmo, mas o meu amor pelo Limoeiro é maior. Não dá mais!

- Jandira...

- E mais: o que aconteceu mesmo com você naquele dia pra jogar a bola na direção do teu gol?

-Jandira, eu...

- Perdedor!

Cesão ficou inconsolável. Um gol contra e uma jogada desleal que desconcertou nosso pobre amigo.
Sentamos pra tomar uma cerveja no bar do Zé do Frango quando descobrimos que não há nada tão ruim que não possa piorar.
- Epa! O que é aquilo?

- O que Cesão?

- Olha lá, Jandira e Ceguim juntos. Como assim?

- Valei-me Cristo. É mesmo!

- Pô, mas ela me trocou logo por aquilo?

Enquanto o diálogo rolava, Ceguim com seus inconfundíveis óculos atravessava a rua. Aproximou-se de Cesão e disse:

- Me desculpa, eu me enganei! Pra você a fila anda sim!

Cesão ficou parado, olhando o novo casal sair de mãos dadas como um zagueiro que faz um gol contra em uma final de campeonato.