sexta-feira, 13 de setembro de 2013

História de amor macabra

São nas situações mais inusitadas e quando a gente menos espera que surgem as pessoas que mais mexem com o nosso coração. Não sou muito adepto aquela história: “Vou te apresentar uma amiga” ou “Rapaz, conheço uma garota que combina perfeitamente contigo”. Pra mim quando algo tem de acontecer, acontece, mesmo quando a gente menos espera. Tenho um amigo que encontrou o amor da vida dele após ter batido na traseira do carro dela. Ele saiu para reclamar dela ter freado bruscamente, mas quando a viu logo foi dizendo.
- Me perdoe, a culpa foi toda minha. Vamos acertar tudo!
E entre as conversas sobre o conserto do carro, ele acabou se oferecendo a dar-lhe carona todos os dias e assim estão indo juntos até hoje.
Mas essa história toda é pra contar o meu drama. Acreditei que tinha encontrado a mulher da minha vida em um cemitério. Há cinco anos eu estava no velório de um pai de um grande amigo quando de longe percebi uma moça próxima de onde um corpo estava sendo sepultado. Vestidinho básico preto (que deixava marcado a escultura que era o corpo abaixo dele), óculos escuros e um semblante triste que me encantou. Observei também que ela não usava aliança, portanto não era a viúva de quem estava sendo sepultado. Logo pensei em me aproximar e dizer algo que lhe trouxesse conforto, mas fiquei na minha. Se não soube dizer algo nem ao meu amigo naquela manhã, imagine para alguém desconhecido. Mesmo assim pensei em chegar junto com um diálogo do tipo:
- Pois é, né?
- Ah?
- Era uma pessoa tão boa!
- Esse daí? Já foi tarde!
Melhor evitar a possibilidade...
Fiquei imaginando uma forma de poder me aproximar, mas o pai do meu amigo, ou melhor, o corpo do pai do meu amigo, ia ser enterrado e eu precisava dar apoio à família. Para minha sorte, a cova “meu defunto” era ao lado da cova do defunto dela. Após os discursos e muitas lágrimas, resolvi me afastar um pouco da cerimônia do sepultamento e perguntar ao coveiro que ainda jogava um pouco de terra sobre a cova do conhecido da minha pretendente.
- E aí, meu irmão! Bom dia, tudo bem com o senhor?
- Mais ou menos, esse trabalho de enterrar os outros é meio complicado. A gente botando o cara no buraco, a família chorando, de vez em quando uma pessoa grita dizendo que quer ir junto, mas vamos lá... É a vida! Mas o que o senhor quer? Ninguém fala com coveiro!
- O companheiro por acaso sabe quem é esse daí que o senhor tá em cima?
- Rapaz, é um tal de Júlio Ribeiro Castro. Dizem que era um empresário. O senhor viu a quantidade de gente que tinha no enterro?
- Vi sim e como vi. Tenha um bom dia!
Saí dali certo de que iria começar uma busca para saber quem era o tal de Júlio Ribeiro Castro. Se era casado, se tinha filhos (ou filhas), vasculhei qualquer informação que pudesse me levar àquela garota. Descobri então que a família Ribeiro Castro era originária daqui, mas que fizera fama e fortuna no comércio do Acre. O tal de Júlio era um dos mais velhos e fundou a “Durma Bem” Indústria de Colchões. Casou-se em Rio Branco, com uma acreana chamada Flora, mas sempre que podia, vinha à Fortaleza visitar seus amigos. Aos mais próximos já tinha manifestado o desejo de ser enterrado em sua terra natal. Por ironia do destino, morrera enquanto dormia, talvez em cima de um dos tantos colchões que ajudou a fabricar.
Dizem que Seu Júlio entrou no ramo dos colchões não porque gostava de dormir, mas porque adorava fazer outra coisa em cima deles. Com isso, ele teve vários herdeiros, alguns fora do casamento. Eu acreditava que a minha pretendente deveria ser uma delas. Passei a acompanhar o obituário dos jornais de Rio Branco todas as manhãs, pois se havia uma possibilidade de eu encontrá-la de novo, com quase toda certeza, era no enterro de algum parente. Nunca torci tanto, que Deus me perdoe, pela morte de uma pessoa.
Houve uma época em que a Dona Flora esteve muito mal de saúde, os médicos chegaram a desenganá-la, mas em uma recuperação que surpreendeu a todos – e entristeceu a mim – ela reassumiu os negócios da família. Até pensei em contratar alguém que pudesse fazer algo contra aquela família, mas achei que a insanidade de fazer isso era maior que a obsessão que eu tinha para encontrar a tal Ribeiro Castro.
Mas ontem pela manhã, uma notícia me pegou de surpresa. “Nota de falecimento: a família Ribeiro de Castro convida a todos para o sepultamento da estimada Olga. Foram momentos inesquecíveis que vivemos ao seu lado”. Pronto, era a oportunidade que eu tanto esperei por cinco anos. Mas como eu poderia atravessar praticamente todo o país a tempo de chegar para o velório e o enterro?
Gastei até o que não tinha para estar hoje pela manhã em Rio Branco. Inventei uma desculpa no trabalho, falei com meus amigos que estava indo em busca de uma aventura que podia até ser macabra, mas eu tinha certeza que ela era a mulher da minha vida. Foram quase 5 mil quilômetros, doze horas de viagem, com escalas e conexões para tentar chegar ao cemitério a tempo de encontrar a minha amada.
Parecia um maluco, chegando ao cemitério e perguntando onde a Olga estava sendo enterrada. Corri feito um louco, pulando lápides, derrubando flores e passando por famílias que choravam por seus parentes. Foi quando vi de longe as mesmas pessoas que estavam no cemitério há cinco anos.
- Só pode ser ali, pensei eu!
E era. Meus olhos buscavam aquele rosto, o tal vestidinho preto básico, mas nada de eu encontrá-la. Observei bem todos os presentes e não a encontrei. Foi quando pensei: Será?
- Moça, desculpa a pergunta, mas quem é essa daí que está sendo enterrada?
- É o Olga, filha mais velha do Seu Júlio. Moça jovem, bonita e inteligente. Morreu igual ao pai. Dizem que é um problema genético no coração.
- A senhora tem uma foto dela?
- Claro! – e mostrou a foto – Você a conhece?
- Não, mas queria tê-la conhecido.
Era a minha Olga que tinha falecido. Lembram que eu disse que tinha encontrado a mulher da minha vida no cemitério? Pois é. Encontrei mesmo!
Pior foi o papelão que ainda fiz no enterro tentando me jogar na cova enquanto um pobre coveiro dizia:
- Calma, senhor! Calma!


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Passado. Presente... Futuro?

A incerteza diante do minuto seguinte, da hora que vem, do dia que não chega é um dos maiores conflitos para os seres humanos. Tanto que são inúmeros os filmes e livros que falam sobre máquina do tempo, a possibilidade de conhecer o futuro, voltar atrás no tempo para corrigir algum erro... Afinal quem nunca quis ter saído um pouco mais tarde da boate naquela noite, ter passado antes na farmácia pra ter comprado preservativo, não ter ido a casa dele (a) naquela noite, ter dito não ao invés de sim, ou “melhor não” quando você sabia que a coisa iria piorar... Mas enquanto não se pode mudar o passado, o jeito é tentar adivinhar o futuro. E era isso que aquelas três amigas estavam dispostas a fazer naquela tarde.
A fama de Irmã Isaura já percorria toda a cidade. “Não posso consertar os erros do seu passado, mas te ajudarei a não errar mais no futuro”. Com este slogan, ela atraía centenas de pessoas, todos os dias, para uma tenda colocada no meio de uma praça em um bairro da periferia da cidade. “Até agora ela não errou nada”, eram os comentários de quem ia chegando à praça. “Irmã Isaura disse que meu marido iria morrer. Duvidei até o dia em que o homem cai durinho de cara na sopa na hora do jantar. E olhe que ele tinha uma saúde de ferro”. “Acertar o futuro como essa daí? Tô pra ver nascer outra”. As amigas se aproximavam da fila quilométrica enquanto ouviam vários depoimentos dos feitos da Irmã Isaura.
Clarisse, Magda e Aline viviam situações diferentes. A primeira estava recém-divorciada, a segunda recém-casada e a terceira sempre encalhada.
- Eu vou primeiro. – disse Aline. Quero saber qual o tamanho da pedra que eu joguei na cruz pra nunca ter arranjado um homem que presta nessa vida.
- Amiga, homem nenhum presta. – comentou Clarisse.
- Você só diz isso porque acabou de levar um pé na bunda.  – retrucou Magda.
- Ah, nem vem. Você fala isso porque arranjou um homem bom. Isto é, ele é bom mesmo? – indagou a despeitada Clarisse.
- É ótimo, maravilhoso, nunca tinha sentido o que estou sentindo agora. – falou a convencida Magda.
- Então se tem tanta certeza de que o Arnaldo é tão maravilhoso assim, que você o ama e que serão felizes para sempre, o que veio fazer aqui? – perguntou Aline.
- Ah, o futuro a gente nunca sabe, não é? – respondeu a agora desconfiada Magda.
- Mas espero que a Irmã Isaura saiba. – afirmou Clarisse.
As três estavam angustiadas, já se passavam quase quatro horas naquela fila e ainda havia pelo menos umas dez pessoas na frente delas. A cada indivíduo que saía a expectativa aumentava. A pergunta na saída era sempre a mesma:
- E aí, o que ela te disse?
E as respostas eram as mais variadas. Algumas pessoas saíam incrédulas, outras confiantes... Um jovem e belo rapaz chamou atenção quando saiu.
- Tá vendo que um negócio desse não é capaz de acontecer. Essa mentirosa da Irmã Isaura dizendo que a minha esposa, a Santana, vai me largar para morar nos Estados Unidos com outro homem. Só sendo mesmo. Santana é a mulher mais séria que conheci em toda minha vida. Nem a finada minha mãe é tão séria como minha esposa. Ir embora pro estrangeiro? Onde já se viu um negócio desse?
- Coitado. Mal sabe esse daí que os meninos da rua colocaram um par de chifres na porta dele hoje de manhã, depois que viram a Santana sair toda arrumada, de mala e cuia em um carrão que encostou na casa dela hoje cedo.  – comentou uma senhora que estava na fila. Essa Irmã Isaura não erra mesmo – completou a distinta senhora. E ainda tem o velho ditado: “O corno é o último a saber”.
As amigas, que já estavam quase se deixando vencer pelo cansaço, entreolharam-se e se restava alguma dúvida da credibilidade da vidente, ela acabara de ir embora com o caso do marido traído. O que seriam duas horas a mais em pé, diante da certeza do que iria acontecer no futuro?
Mais duas horas e chegou a vez. Aline se aprontou toda pra ser a primeira das três.
- Pode entrar! – chamou a Irmã Isaura.
Longos 20 minutos se passaram. Magda e Clarisse olhavam-se e tentavam adivinhar o que estava se passando lá dentro. “Qual será o futuro dessa sem-futuro?”, pensavam.
A porta de saída da tenda era por trás, ou seja, a que entrasse logo após Aline, não poderia conversar com amiga para saber o que o futuro reservava.
- Você vai na frente. – disse Magda.
- Eu não. Vai você! – retrucou Clarisse.
- Por que eu? – questionou Magda.
- E por que eu?
- Clarisse, você acabou de se divorciar. Mais do que eu, quer saber o que o futuro te reserva. Eu encontrei o Arnaldo há pouco tempo. Estamos felizes juntos, mesmo que a Irmã Isaura diga que meu futuro com ele não será bom, eu não vou chegar a casa e terminar tudo. Se o futuro é pra ser assim, com suas angústias e decepções, que seja, pois eu sei que vou aprender muito. E você? O que o futuro guarda pra ti?
- Pode entrar! – gritou a Irmã Isaura.
- Tem razão, vou saber agora! – Clarisse riu para Magda, deu um beijo na amiga e entrou.
Meia hora depois, Clarisse sai e vê Magda e Aline conversando em um banco da praça.
- O que você fazendo aqui? E o teu futuro? – perguntou Clarisse à Magda.
- O meu futuro eu mesma escreverei.
- Tudo bem, amiga. E por que a Aline está assim? – Clarisse observava o olhar perdido e um leve sorriso no rosto de Aline.
- É o que estou tentando descobrir. Conta aí, Aline! O que houve lá dentro? – pediu Magda.
- A Irmã Isaura me falou muita coisa sobre estudo, família, trabalho e, é claro, amor. A que me deixou mais aliviada foi quando ela disse que não tinha jogado pedra alguma na cruz. Nesta hora ela olhou bem pra mim e disse: “O homem da sua vida está lá fora. Saia imediatamente, sente em um banco que fica debaixo de um pé de jambo e observe a rua na direção da lua cheia. Ele vai surgir na sua frente e te fazer uma pergunta que você jamais esperaria, mas que saberá exatamente a resposta”. – contou Aline.
- Que coisa mais doida, mulher de Deus. E você vai ficar parada aí esperando esse tal homem? – perguntou Magda.
- Mas é claro. Vou deixar passar uma oportunidade dessa?
- Ai, amiga, você vai me desculpar, mas estou muito cansada e não estou disposta a esperar esse tal príncipe encantado neste fim de mundo não. Até porque não gostei muito do que essa tal Isaura me contou não. – disse Clarisse.
- Eu também não vou fica. Até porque o Arnaldo está ligando e pedindo pra eu voltar. Boa sorte tá?
- Tudo bem, vou aguardar mais um pouco. Quero saber se a Irmã Isaura realmente acertou o meu futuro.
Já era tarde da noite e Aline lá, olhando para a rua na direção da lua esperando o tal homem de sua vida. Estava cansada das horas que ficara em pé e agora da longa espera por alguém que nem mesmo ela sabia se ia chegar.
- Será que a Irmã Isaura errou dessa vez?  - baixou a cabeça e começou a pensar sobre os erros que cometera no passado e sobre as incertezas do futuro. Foi quando ouviu passos de alguém se aproximando, levantou a cabeça e a luz forte vinda do poste impediu que ela visse o rosto do homem que se ajoelhou aos pés dela.
- Estive com a Irmã Isaura esta tarde e ela me disse que eu deveria vir aqui à noite porque uma reviravolta ia acontecer na minha vida. Minha esposa iria me abandonar e que eu encontraria uma mulher no banco da praça a quem eu deveria perguntar: é você?
Aline levantou o rosto daquele homem, olhou profundamente em seus olhos e respondeu:
- Sim, sou eu!
Beijaram-se longamente tendo a lua como testemunha, enquanto no meio da praça irmã Isaura terminava mais um dia de trabalho e atravessava a praça enquanto dizia:
- O ontem é passado, o amanhã é um mistério e o hoje é uma dádiva, por isso se chama presente. Mas do mistério, eu entendo!

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Será?

As amigas mais próximas de Amanda já a tinham alertado para o jeito um tanto quando afeminado de Fernando.

- Amiga, você não acha que o Fernando é assim... meio...

- Assim como, Alice? – perguntou a desconfiada Amanda.

- O povo está dizendo que ele não gosta muito de...

- Não gosta do que? Fala logo!

- Amanda, ele faz pilates! Você conhece algum homem que faça pilates?

- Claro que conheço. Vários. Tem o... Como é mesmo o nome dele?

- Tá vendo? Nem mesmo você sabe. Mas se eu te perguntar quem do teu setor vai jogar futebol na causa do Claúdio as quartas à noite você escala o time todinho.

- Mas é claro. Eu que tenho de ficar até mais tarde porque, quando são cinco horas, eles já estão todos de meião e chuteiras, só esperado o horário de bater o ponto.

- Pois é exatamente aí que eu queria chegar. Homem gosta mesmo é de futebol, tomar cerveja, sair com os amigos pra falar ou fazer sacanagem e com o Fernando não é assim.

- Como não? Agora mesmo, enquanto eu estou aqui contigo, ele está com os amigos dele do curso de Sensitivação Oriental.

- Curso de que?

- Sensitivação Oriental. É uma nova modalidade de autoajuda em que as pessoas contam suas experiências e angústias. Diz ele que lá as pessoas costumam se abrir para novas experiências e que tem aprendido muito com isso.

- Sei. Amanda, abre este teu olho. E a amizade dele com aquele outro lá, o tal de Renato.

- O que é que tem? São amigos, ora. Assim como eu e você.

- Amiga, ele chama o Fernando de “Fê”.

- Carinho, ué?

- E o Fernando ainda completa chamando o outro lá de “Rê”. Me poupe né?

- Ah, Alice, quer saber. Você é muito mal amada e fica com essas histórias de implicância com o Fernando.

- Vou te dar mais uma prova: o que ele gosta de ouvir? Que música ele veio ouvindo no carro quando te deixou aqui? Aposto que foi Lady Gaga.

- Ai, amiga, eu também gosto de Lady Gaga.

- Você, o “Fê” e todos os meus amigos que gostam tanto de homem quanto eu.

- Sabe de uma coisa? Não quero mais conversa com você!

- Tudo bem. Só estou te dizendo o que ninguém teve coragem. Todo mundo fica falando pelas costas. E eu tive coragem de te vir aqui e te dizer. Amiga, se é que você ainda vai continuar minha amiga, observa mais as atitudes dele. Faz um teste com ele. É isso! Faz um teste!

- Que tipo de teste?

- Pede para ele comer uma manga.

- Uma manga?

- Se ele for macho mesmo, vai comer sem se preocupar em se lambuzar todo e ainda vai tentar ficar tirando os fiapos dos dentes com as unhas.

- E onde é que vou arranjar manga uma época dessa?

- Olha só! Tá querendo fazer né? Até você desconfia.

- Chega, vamos parar com essa conversa. Até outro dia!

Amanda saiu sem se despedir de Alice. Apesar de estar querendo sentir ódio da amiga, ela ligou o desconfiômetro.

- Será, hein? – pensou.

Na volta pra casa ainda passou no supermercado. Entre uma prateleira e outra resolveu ir até o setor de frutas.

- Moço, onde eu encontro manga? – perguntou ao atendente.

- Senhora, nessa época é difícil encontrar. Só na Ceasa.

Não, não! Teste da manga, não. E ficou pensando em algumas situações que poderiam tirar a prova dos nove.

- Amor, vamos dar uma volta hoje? Só nós dois! Estou querendo uma noite bem especial com você – era o convite para o grande dia.

- Claro, baby! O Rê tá terminando um relatório aqui e hoje não tenho aula do grupo de Sensitivação, pois o mestre tá dodói. Oito horas tá bom pra você?

- Tá ótimo. Mas oito horas mesmo, tá? Porque você demora muito tempo tomando banho e acaba se atrasando.

- Demoro porque fico passando meus cremes e me preparando pra você, honey.

- Tá certo, então. Oito horas! Beijos e até mais!

- Bye, Amandita!

Enquanto se arrumava, Amanda pensava: “Rê”, “dodói”, “baby”, “bye”, “Sensitivação Oriental”. Mas será?

Fernando chegou quase nove horas.

- Vamos, baby! Me desculpa, o Rê demorou demais a entregar o relatório e não posso sair com você todo sujo e fedorento.

- Tá bom! Vamos lá!

Amanda prestava atenção em cada gesto: a mão arrumando a sobrancelha, a forma de ajeitar o cabelo como se quisesse jogá-lo pra trás da orelha (como fazem as mulheres), como sentava, andava, tudo. E pensava...

- Meu Deus, será?

No restaurante, sentados, um diante do outro, Amanda olhava fixamente para o seu amado.

- Honey, você está bem? Tô te achando tão pra baixo hoje. Me perdoe pelo atraso. Sinto muito mesmo.

- Tudo bem. Chama o garçom que quero beber alguma coisa.

- Pois não, o que o senhor deseja? – indagou o garçom.

- Me traga uma caipifruta de kiwi, com pouco gelo e adoçante. – respondeu Fernando enquanto era observado com a cara de espanto e decepção de Amanda.

- E a senhora?

- Uma cerveja, mas tem que ser bem gelada. – suspirou e questionou pela última vez: “Será?”

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Alma Gêmea

Existe amor à primeira vista? Nunca acreditei nisso. Onde já se viu duas pessoas se conhecerem no meio de uma tempestade, em pleno Centro da cidade, seus olhares se cruzarem e dali, sem nenhuma explicação lógica, descobrirem que foram feitos um para o outro? Estaria eu sendo racional demais? O jeito foi procurar ouvir uma segunda opinião. E nada como uma sexta-feira, uma boa companhia, um lugar agradável e uma boa bebida para as ideias fluírem melhor.
- Você acredita em alma gêmea? – perguntei à Vanda, única amiga que topou discutir sobre relacionamentos comigo.
- Como assim, alma gêmea?
- Sim alma gêmea. Aquela história das metades da laranja que o Fábio Júnior canta na música lá...
- Olha, eu nunca pensei para parar nisso.
- Acredita ou não? A pergunta foi objetiva.
- Eu acho que sim.
- Por quê? Você acha mesmo que duas pessoas podem nascer mesmo uma pra outra para o resto da vida?
- Claro. Por que não?
- Eu acho que isso é coisa de conto de fadas. Eu sou o príncipe encantando – se bem que estou mais para sapo – e de repente cruzo com você no meio de uma multidão e dali descobrimos que nascemos um para o outro. Ah, para com isso. Na convivência você acaba descobrindo que a outra metade da laranja pode estar podre e aí contamina tudo.
- Credo, deixa de ser pessimista. Você fala assim porque ainda não achou a metade da sua laranja.
- E nem quero. Pra mim laranja é bom mesmo com outra fruta. Suco de laranja com cenoura, ou beterraba... É o diferente que me atrai.  Não esta história de alma gêmea. Gêmeo é igual e já imaginou se todo mundo fosse igual a mim?
- Deus não seria tão ruim assim com a humanidade...
- Realmente... Um mundo feito de iguais não seria bom. O que gosto mesmo é de experimentar novos sabores. A outra metade da minha laranja eu dispenso.
- Vendo por este lado, acho complicado mesmo você acreditar em alma gêmea, as tais duas metades da laranja. Quer saber? Muda o cantor e vai viver tua vida do jeito que você quer.
- Tens razão. Essa conversa toda me deu uma sede... Vamos tomar alguma coisa? Garçom, por favor.
- Pois não, senhor.
- Um suco de laranja, por favor.
- Com gelo?
- Não, com cenoura. Fica mais gostoso.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Expectativas e perspectivas

Chegar próximo aos 30 anos e não ser casado ou não estar em um “relacionamento sério” significa algo desesperador para muita gente, principalmente para as mulheres.  Margarida, Rosa e Hortência - mais que nomes de flores - eram amigas há muito tempo e duas delas estavam com planos de casar-se e resolveram fazer um “happy-hour” para poder compartilhar angústias ou desejos dos seus relacionamentos.

Enquanto tomava um suco de morango – com adoçante para “caber no vestido -, Margarida  falava das expectativas para o seu casamento. Rosa ainda arriscou um “será que eu bebo alguma coisa”, mas achou melhor não pois Murilo, seu namorado, poderia não gostar. Já Hortência foi logo pedindo uma cerveja. O garçom até quis saber qual, mas ela foi direta: “a mais gelada”.

- Estamos planejando a festa há muito tempo. Pena que a igreja onde nós queremos a celebração só tenha vaga para fevereiro do ano que vem. Mas o que é que tem né, amiga? Eu e o Fernando estamos juntos há sete anos e não vão ser alguns meses a mais que irão atrapalhar o nosso relacionamento. – comentava a empolgada Margarida.
- Sete anos? Quase dois mandatos de presidente. Toma cuidado, viu? Já passou por uma reeleição. Acho melhor você dar um golpe igual aquele da Venezuela – que determinou que o candidato pode concorrer quantas vezes quiser -  senão você não mais segura este homem.
- Credo Hortência. Deixa de ser amarga. Também não é assim. A gente precisa conhecer bem a pessoa com a qual vamos nos casar. – retrucou Rosa.
- E sete anos não é suficiente? E ainda esperar mais um ano por causa da agenda de uma igreja? Me poupe, né? Fala ali com o Padre Chico, da capelinha do nosso bairro, e casa lá mesmo. – ponderou Hortência.
- E a festa? Reunir a família, os amigos...
- Tudo convenção social e religiosa. As mulheres gastam a maior grana pra poder comprar vestido que provavelmente só vão usar uma vez, passam horas sendo torturadas em um salão de beleza pra se mostrar durante algumas horas para as  outras amigas (enquanto disse isso fez um sinal com dedos médio e indicador das duas mãos indicando as aspas) que vão dizer que você está muito bonita e no final da festa saem falando mal de ti.
- Aff, não é assim também não. – afirmou, Margarida.
- Claro que é! Isto sem falar dos coitados dos noivos que passam horas fazendo fotografias, das mais variadas posições e com algumas pessoas com as quais ele nunca mais vai conviver na vida. Ou você acha que tua mãe não vai querer incluir na lista aquela amiga chata dela que você odeia? – argumentava Rosa.
- É, você tem razão. Minha mãe pediu pra convidar aquela chata da D. Conceição, mas foi só ela. Te juro!
- Quer saber? Tudo convenção. – continuava firme em seus ideais, a “amarga” Hortência.
Um silêncio pairou sobre a mesa.
- Mas pode ficar tranquila que vou pra festa, beberei todas e ainda farei uma foto com você.  – comentou Hortência para quebrar um pouco o clima pesado. E você, Rosa? Quando o Murilo vai deixar de te enrolar e te pedir em casamento?
- O Murilo está estudando para concurso. Quando ele passar, espero que ele peça para casar comigo.
- Realmente, com o concurso vem a estabilidade, vocês poderão comprar um bom lugar para morar e ser felizes pra sempre. – falou a encantada Margarida.
- “Felizes para sempre”?  Amiga, isto é vida real, não é conto de fadas. Planejamento, estabilidade, habitação... onde fica o amor nessa história? – perguntou Hortência.
- Como assim onde fica o amor? Acha que se a gente não se amasse, não estaríamos namorando?
- Acho que se vocês se amassem de verdade já estariam casados, morando juntinhos mesmo que fosse num puxadinho na casa da mãe dele. Quer saber? Vocês planejam demais. Burocratizam o amor como se um relacionamento fosse uma repartição pública. Ele passou pelo setor de protocolo pra te pedir em namoro? Apresentou os pareceres e as condições necessárias para vocês ficarem juntos? Se sim, então passa daqui a dois anos que eu caso contigo. Gente, o amor não é burocrático desse jeito.
 - Você tá muito azeda, Hortência. – criticou Rosa.
- Azeda e encalhada né? – completou Margarida com uma risadinha de canto de boca.
- Não estou azeda, estou falando a verdade. E outra: quem disse que estou encalhada?
- Não! – falaram juntas as amigas.
- E você não conta nada pra gente? Como assim? Quem é? É gato?
- Lembra aquela  convenção que fui no Paraná no mês passado? Conheci um cara maravilhoso lá. Bonito, inteligente, isto sem falar de outros atributos e habilidades. – comentava Hortência.
- Ah, mas vocês estão namorando à distância? Isto não é ruim? Não sente muita falta dele? – indagou Rosa.
- E quem disse que estamos namorando à distância.  Depois de uma noite maravilhosa que tivemos lá mesmo durante o período convenção, ele pediu demissão e mudou-se pra cá. Tá morando comigo lá no apartamento. Hoje mesmo quando acordei, tinha feito um café da manhã pra mim e já saiu pra procurar emprego.
- Como assim? Você conheceu o cara no mês passado e já estão morando juntos? – questionava Margarida. Você é louca! – sentenciou.
- É simples. A gente se gosta. Não preciso burocratizar o amor. Ele não passou por todos os setores, apenas falou com a pessoa certa. Assim é o amor, simples, sem burocracia.
- Mas, mas...- tentava argumentar a boquiaberta Rosa.
- Sem ”mas”. A gente se gosta, se deu bem e pronto. Não foi necessário sete anos de relacionamento, ou um concurso público, bastou um beijo e uma certeza que queríamos ficar juntos. Precisa de mais?
- Não!
- Por falar nele, olha lá quem veio me pegar. Fiz questão que ele viesse para eu poder apresentá-lo  a vocês. Acho que hoje à noite tem. – falou enquanto soltava uma gostosa gargalhada.
- Nossa! – Rosa estava boquiaberta.
- Realmente... – disse Margarida.
- Amor, estas são minhas amigas que te falei: Rosa e Margarida. Este é o Beto. O nome dele mesmo é Paulo Roberto, mas pra mim é Beto.  Foi ótimo o nosso encontro. Espero que nos vejamos mais vezes pra falarmos mais de casamento, relacionamentos, planos... Beijos!
Novo silêncio na mesa, que só foi quebrado com a chegada do garçom.
- As senhoras desejam mais alguma coisa?
- Sim, por favor. Uma cerveja. – disse Rosa.
- Alguma preferência? – questionou o garçom
- A mais gelada. – respondeu Margarida.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

O que mais te atrai?

Era sexta-feira. A turma resolve dar uma esticadinha até o boteco da esquina para continuar uma conversa importantíssima que não poderia esperar até segunda-feira. Todos sentados, mulheres e namoradas telefonando para saber daquela “reunião com o chefe de última hora sem hora para acabar” e então os amigos resolvem discutir uma importante questão para o futuro da humanidade.
- O que mais te atrai em uma mulher?  - Carlos Alberto fez a pergunta apontando diretamente para mim.
- Como?
- Simples. Qual a parte do corpo que mais te atrai em uma mulher? Sem essa de o que vale é a beleza interior porque aqui ninguém tem aparelho de tomografia não. Olhando só para a embalagem, sem saber o conteúdo. O que mais te atrai?
- A bunda, claro! – declarou o seu voto o apressado Diogo. É a preferência nacional, não tem como não olhar. A mulher pode até não ter o rosto mais bonito do mundo, mas se tiver uma bela bunda logo chama a atenção.
- Tem razão.  – concordou Carlos Alberto, enquanto olhava a região glútea de uma moça que passava ao lado da mesa deles.
- Pois pra mim são os seios. – respondeu sem titubear o Márcio. Chega a ser antropológica a relação dos homens com os seios de uma mulher. Quando a gente nasce vai logo os procurando desesperadamente porque sabemos que ali o negócio é bom.
- Mas qualquer seio? – Questionou Carlos Alberto.
- A discussão foi sobre a parte e não a forma. Você não perguntou se era qualquer bunda.
- Tem razão. – afirmou Carlos Alberto enquanto observava o decote de uma mulher que sentava quase em frente a ele.
- Pra mim o olhar diz tudo. – escolheu André.
- O olhar não é uma parte do corpo e sim um gesto. – questionou Carlos Alberto.
- Mas é que o olhar envolve não somente o olho, entende? É o conjunto: olho, sobrancelha, cílios...
- Escolha uma parte!
- Poxa, Carlos Alberto não vamos radicalizar também né? Seios são dois e bunda não é só a metade e sim o conjunto. Dá um desconto! – disse Márcio defendendo o amigo.
- Estás certo. – afirmou mais uma vez Carlos Alberto, enquanto tentava entender o olhar da garota da mesa ao lado.  E você? – era a minha vez.
- Eu o quê?
- Qual a parte do corpo que mais te atrai em uma mulher?
- Preciso responder mesmo?
- Claro. Todos nós já respondemos!
- Você ainda não, Carlos Alberto.
- Responderei por último. Vamos lá. Diga: o que mais te atrai em uma mulher?
- Tá bom. A nuca!
- A nuca? – espantou-se Márcio!
- Como assim a nuca?  - indagou Diogo.
- Tem tanta parte melhor: pernas, cinturas, até o umbigo é melhor que a nuca. – questionou André.
- Posso explicar?
- Deve. – responderam uníssonos.
- Não é bem a nuca. Na verdade é um gesto. Sabe quando está quente e a mulher enrola o cabelo no topo da cabeça e deixa a nuca à mostra? Pois é. É aquilo que mais me atrai em uma mulher. Aqueles poucos cabelos que teimam em não ficar no penteado improvisado -  geralmente fixo por uma caneta esferográfica – e que escorrem pela nuca são para mim a parte mais atraente. É quando a mulher, em meio a uma situação qualquer, mostra realmente quem ela é. Afinal, não é qualquer mulher que enrola o cabelo e assume que o ambiente está quente e que quer ficar mais à vontade. E mais, muitas vezes a nuca traz consigo uma tatuagem que revela ainda mais a personalidade daquela mulher. Já vi de tudo: fadas, rosas, estrelas, nomes (muitas vezes de marido ou filhos) e numa delas tinha até uma frase bem sugestiva: “Beija-me”.
Neste momento percebo que todos observavam atentamente a minha filosofia sobre como uma nuca feminina era capaz de tantos encantos. Até os copos de cerveja tinham sido esquecidos sobre a mesa.
- Agora é sua vez, Carlos Alberto. O que mais te atrai em uma mulher?
- Espera um minuto que essa daí da frente tá enrolando o cabelo. Olha só, olha só... Surgiu uma estrela! A nuca, definitivamente a nuca.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Turbulências

Nunca gostei muito de viajar, apesar de adorar conhecer lugares e, principalmente, gente nova. O que me incomoda é a viagem. O avião é tenso, o ônibus é cansativo e o carro é entediante. Para mim, uma das maiores invenções da humanidade seria a máquina de teletransporte: apertar um botão aqui e chegar, num piscar de olhos, no outro lugar. Mas enquanto isto não acontece, continuamos nos meios de transporte convencionais.
Toda vez que viajo penso logo em quem vai sentar ao meu lado. Será uma moça bonita (esta é sempre a minha primeira opção)? Um cara que dorme a viagem inteira e nem sequer dá um “boa tarde”? Uma mulher com bebê de colo? Uma pessoa acima do peso que toma todo o assento dela e uma parte significativa (geralmente o apoio do braço) do meu?
O momento de sentar e esperar quem vai ficar ao meu lado é muitas vezes mais tenso que  uma decolagem no meio de um temporal.
- 21B?
A pessoa tem escrito na passagem, tá registrado acima do assento e ainda pergunta?
- Assento 21B?
Putz e ainda insiste. Levantei a cabeça e fiquei mudo. Mas não de raiva, era contemplação. Uma jovem linda, ruiva, cabelos soltos, estilo intelectual e parecida com uma executiva (percebia-se pela roupa que usava). Perfeita (tomara que não tenha pensado alto).
- Desculpa insistir, mas este é um assento 21B?
- Humrum  (como é que se responde desse jeito?).
- Obrigada.
E agora? A mulher perfeita estava ali do meu lado. Como agir? Como começar uma conversa em um avião? Eu estava preparado psicologicamente pra um gordo e não para aquela situação.  Instruções dadas, balinhas de caramelo distribuídas, “atenção tripulação decolagem autorizada” e ...
- Posso segurar a tua mão?
- Ah? (Como é que eu não desenvolvo uma conversa?)
- É que tenho medo da decolagem.
- Claro, sem problema. Eu também estou um pouco tenso.
- É. Tem medo de viajar de avião?
- Não. Estava tenso por outro motivo.
- Ai meu Deus!
- Que foi?
- Esta é a pior parte: quando o avião acelera e se prepara pra deixar o solo.
- Fique tranquila. (E dei uma apertadinha mais forte na mão dela para ela sentir segurança).
Ela cerrou os olhos, apertou bem forte a minha mão e decolamos.
- Moça, já pode abrir os olhos.
- Por quê? A gente já chegou?
- Não. A gente tá longe ainda.
- Você se incomoda de eu ficar segurando a tua mão? Sinto-me mais segura. Sei que não adianta nada na prática, pois se o avião estiver com algum problema, você não vai poder fazer nada, mas me sinto melhor assim.
- Sem problema. Tem certeza que quer só segurar a mão?
- Como assim?
- Encosta a cabeça no meu ombro e tenta dormir um pouco.
- Não, não!
Será que tinha sido atirado demais?
- Tá bom, então fiquemos só assim.
E conversamos muito sobre nossas vidas, medos, angústias, sonhos - só fomos interrompidos pela aeromoça que insistia em oferecer pão gelado com mortadela fria e refrigerante quente -  e  ela sempre segurando a minha mão. O voo durou duas horas.
- Pra mim, pousar é pior que decolar.
- Não se preocupe. Pode continuar segurando a minha mão.
- Obrigada, você é muito gentil. – falou soltando um lindo sorriso pra mim.
Mão apertada, avião em solo e era hora de arriscar um voo mais alto naquela relação. Foi quando percebi que o céu para mim não era tão de brigadeiro. Quando ela soltou a minha mão, vi uma aliança em seu dedo.
- Muito obrigada mesmo. Foi um dos voos mais tranquilos que já fiz na vida.
- Pra mim também. Pena que a vida continue ainda cheia de turbulências.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Pura amizade

A amizade entre homens e mulheres sempre foi algo muito questionado. Pelas mulheres, é claro.
- A Margarida é realmente só sua amiga ou tem algo mais?
- Como assim “algo mais”? Amizade pra mim é tudo
- Sei. Rum. Vai me dizer que você nunca pensou em dar um cheiro a mais na Margarida?
- Não estou entendendo aonde você está querendo chegar com este questionamento.
- Tá, Paulo Ernesto! Eu quero saber se ela é sua amiga ou mais que isto.
- Defina o “mais que isto”, porque, pra mim, mais que amiga só namorada e até onde eu sei este cargo é ocupado por você.
- Quero saber se já rolou algo entre você e ela, é isso.
- Não.
- Não, o quê Paulo Ernesto? Não rolou ou não vai me contar?
- Olha, isso não tem nada a ver.
- Como não tem nada a ver? Eu sou tua namorada e exijo saber.
- Como assim exige? Pois tá bom, não rolou nada. É pura amizade.
- Defina pura amizade.
- Definir pura amizade? Como assim? Olha, acho melhor a gente encerrar esta conversa por aqui.
- Pois eu não acho. Pura amizade é diferente de amizade pura. Esta é sem maldade, já aquela...
- Você tá insinuando que a Margarida e eu já tivemos um caso, é isso?
- Ou tiveram ou ainda tem.
- Como assim ainda tem?
- Então tiveram?
- Eduarda, para com isso agora. Não quero brigar com você esta noite.
- Ah, não? E por quê?
- Estamos com visita na sala. Não seria bacana a gente vir pegar um vinho na cozinha e voltar pra sala de cara fechada.
- Eu não ficarei de cara fechada. Voltarei alegre, linda e sorridente.
- Quer saber? Não vou responder e vou voltar pra sala com o vinho pra visita que já está esperando a gente a um bom tempo.
- E vou ficar sem resposta?
- Tchau. Vou pra sala.
E saiu com uma garrafa de vinho e duas taças.
- Então, está servida? – perguntou Paulo Ernesto.
- Oh, Paulinho. Você trouxe justamente o vinho que mais gosto. Lembra que a gente tomou uma garrafa todinha naquele réveillon que passamos na praia?
- Claro que lembro, Margarida. Jamais esqueci aquele réveillon.
Enquanto isso, Eduarda estava na cozinha ouvindo a conversa do namorado com a amiga e dizendo baixinho:
- Pura amizade...