quinta-feira, 13 de junho de 2013

Expectativas e perspectivas

Chegar próximo aos 30 anos e não ser casado ou não estar em um “relacionamento sério” significa algo desesperador para muita gente, principalmente para as mulheres.  Margarida, Rosa e Hortência - mais que nomes de flores - eram amigas há muito tempo e duas delas estavam com planos de casar-se e resolveram fazer um “happy-hour” para poder compartilhar angústias ou desejos dos seus relacionamentos.

Enquanto tomava um suco de morango – com adoçante para “caber no vestido -, Margarida  falava das expectativas para o seu casamento. Rosa ainda arriscou um “será que eu bebo alguma coisa”, mas achou melhor não pois Murilo, seu namorado, poderia não gostar. Já Hortência foi logo pedindo uma cerveja. O garçom até quis saber qual, mas ela foi direta: “a mais gelada”.

- Estamos planejando a festa há muito tempo. Pena que a igreja onde nós queremos a celebração só tenha vaga para fevereiro do ano que vem. Mas o que é que tem né, amiga? Eu e o Fernando estamos juntos há sete anos e não vão ser alguns meses a mais que irão atrapalhar o nosso relacionamento. – comentava a empolgada Margarida.
- Sete anos? Quase dois mandatos de presidente. Toma cuidado, viu? Já passou por uma reeleição. Acho melhor você dar um golpe igual aquele da Venezuela – que determinou que o candidato pode concorrer quantas vezes quiser -  senão você não mais segura este homem.
- Credo Hortência. Deixa de ser amarga. Também não é assim. A gente precisa conhecer bem a pessoa com a qual vamos nos casar. – retrucou Rosa.
- E sete anos não é suficiente? E ainda esperar mais um ano por causa da agenda de uma igreja? Me poupe, né? Fala ali com o Padre Chico, da capelinha do nosso bairro, e casa lá mesmo. – ponderou Hortência.
- E a festa? Reunir a família, os amigos...
- Tudo convenção social e religiosa. As mulheres gastam a maior grana pra poder comprar vestido que provavelmente só vão usar uma vez, passam horas sendo torturadas em um salão de beleza pra se mostrar durante algumas horas para as  outras amigas (enquanto disse isso fez um sinal com dedos médio e indicador das duas mãos indicando as aspas) que vão dizer que você está muito bonita e no final da festa saem falando mal de ti.
- Aff, não é assim também não. – afirmou, Margarida.
- Claro que é! Isto sem falar dos coitados dos noivos que passam horas fazendo fotografias, das mais variadas posições e com algumas pessoas com as quais ele nunca mais vai conviver na vida. Ou você acha que tua mãe não vai querer incluir na lista aquela amiga chata dela que você odeia? – argumentava Rosa.
- É, você tem razão. Minha mãe pediu pra convidar aquela chata da D. Conceição, mas foi só ela. Te juro!
- Quer saber? Tudo convenção. – continuava firme em seus ideais, a “amarga” Hortência.
Um silêncio pairou sobre a mesa.
- Mas pode ficar tranquila que vou pra festa, beberei todas e ainda farei uma foto com você.  – comentou Hortência para quebrar um pouco o clima pesado. E você, Rosa? Quando o Murilo vai deixar de te enrolar e te pedir em casamento?
- O Murilo está estudando para concurso. Quando ele passar, espero que ele peça para casar comigo.
- Realmente, com o concurso vem a estabilidade, vocês poderão comprar um bom lugar para morar e ser felizes pra sempre. – falou a encantada Margarida.
- “Felizes para sempre”?  Amiga, isto é vida real, não é conto de fadas. Planejamento, estabilidade, habitação... onde fica o amor nessa história? – perguntou Hortência.
- Como assim onde fica o amor? Acha que se a gente não se amasse, não estaríamos namorando?
- Acho que se vocês se amassem de verdade já estariam casados, morando juntinhos mesmo que fosse num puxadinho na casa da mãe dele. Quer saber? Vocês planejam demais. Burocratizam o amor como se um relacionamento fosse uma repartição pública. Ele passou pelo setor de protocolo pra te pedir em namoro? Apresentou os pareceres e as condições necessárias para vocês ficarem juntos? Se sim, então passa daqui a dois anos que eu caso contigo. Gente, o amor não é burocrático desse jeito.
 - Você tá muito azeda, Hortência. – criticou Rosa.
- Azeda e encalhada né? – completou Margarida com uma risadinha de canto de boca.
- Não estou azeda, estou falando a verdade. E outra: quem disse que estou encalhada?
- Não! – falaram juntas as amigas.
- E você não conta nada pra gente? Como assim? Quem é? É gato?
- Lembra aquela  convenção que fui no Paraná no mês passado? Conheci um cara maravilhoso lá. Bonito, inteligente, isto sem falar de outros atributos e habilidades. – comentava Hortência.
- Ah, mas vocês estão namorando à distância? Isto não é ruim? Não sente muita falta dele? – indagou Rosa.
- E quem disse que estamos namorando à distância.  Depois de uma noite maravilhosa que tivemos lá mesmo durante o período convenção, ele pediu demissão e mudou-se pra cá. Tá morando comigo lá no apartamento. Hoje mesmo quando acordei, tinha feito um café da manhã pra mim e já saiu pra procurar emprego.
- Como assim? Você conheceu o cara no mês passado e já estão morando juntos? – questionava Margarida. Você é louca! – sentenciou.
- É simples. A gente se gosta. Não preciso burocratizar o amor. Ele não passou por todos os setores, apenas falou com a pessoa certa. Assim é o amor, simples, sem burocracia.
- Mas, mas...- tentava argumentar a boquiaberta Rosa.
- Sem ”mas”. A gente se gosta, se deu bem e pronto. Não foi necessário sete anos de relacionamento, ou um concurso público, bastou um beijo e uma certeza que queríamos ficar juntos. Precisa de mais?
- Não!
- Por falar nele, olha lá quem veio me pegar. Fiz questão que ele viesse para eu poder apresentá-lo  a vocês. Acho que hoje à noite tem. – falou enquanto soltava uma gostosa gargalhada.
- Nossa! – Rosa estava boquiaberta.
- Realmente... – disse Margarida.
- Amor, estas são minhas amigas que te falei: Rosa e Margarida. Este é o Beto. O nome dele mesmo é Paulo Roberto, mas pra mim é Beto.  Foi ótimo o nosso encontro. Espero que nos vejamos mais vezes pra falarmos mais de casamento, relacionamentos, planos... Beijos!
Novo silêncio na mesa, que só foi quebrado com a chegada do garçom.
- As senhoras desejam mais alguma coisa?
- Sim, por favor. Uma cerveja. – disse Rosa.
- Alguma preferência? – questionou o garçom
- A mais gelada. – respondeu Margarida.

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