sexta-feira, 31 de maio de 2013

O que mais te atrai?

Era sexta-feira. A turma resolve dar uma esticadinha até o boteco da esquina para continuar uma conversa importantíssima que não poderia esperar até segunda-feira. Todos sentados, mulheres e namoradas telefonando para saber daquela “reunião com o chefe de última hora sem hora para acabar” e então os amigos resolvem discutir uma importante questão para o futuro da humanidade.
- O que mais te atrai em uma mulher?  - Carlos Alberto fez a pergunta apontando diretamente para mim.
- Como?
- Simples. Qual a parte do corpo que mais te atrai em uma mulher? Sem essa de o que vale é a beleza interior porque aqui ninguém tem aparelho de tomografia não. Olhando só para a embalagem, sem saber o conteúdo. O que mais te atrai?
- A bunda, claro! – declarou o seu voto o apressado Diogo. É a preferência nacional, não tem como não olhar. A mulher pode até não ter o rosto mais bonito do mundo, mas se tiver uma bela bunda logo chama a atenção.
- Tem razão.  – concordou Carlos Alberto, enquanto olhava a região glútea de uma moça que passava ao lado da mesa deles.
- Pois pra mim são os seios. – respondeu sem titubear o Márcio. Chega a ser antropológica a relação dos homens com os seios de uma mulher. Quando a gente nasce vai logo os procurando desesperadamente porque sabemos que ali o negócio é bom.
- Mas qualquer seio? – Questionou Carlos Alberto.
- A discussão foi sobre a parte e não a forma. Você não perguntou se era qualquer bunda.
- Tem razão. – afirmou Carlos Alberto enquanto observava o decote de uma mulher que sentava quase em frente a ele.
- Pra mim o olhar diz tudo. – escolheu André.
- O olhar não é uma parte do corpo e sim um gesto. – questionou Carlos Alberto.
- Mas é que o olhar envolve não somente o olho, entende? É o conjunto: olho, sobrancelha, cílios...
- Escolha uma parte!
- Poxa, Carlos Alberto não vamos radicalizar também né? Seios são dois e bunda não é só a metade e sim o conjunto. Dá um desconto! – disse Márcio defendendo o amigo.
- Estás certo. – afirmou mais uma vez Carlos Alberto, enquanto tentava entender o olhar da garota da mesa ao lado.  E você? – era a minha vez.
- Eu o quê?
- Qual a parte do corpo que mais te atrai em uma mulher?
- Preciso responder mesmo?
- Claro. Todos nós já respondemos!
- Você ainda não, Carlos Alberto.
- Responderei por último. Vamos lá. Diga: o que mais te atrai em uma mulher?
- Tá bom. A nuca!
- A nuca? – espantou-se Márcio!
- Como assim a nuca?  - indagou Diogo.
- Tem tanta parte melhor: pernas, cinturas, até o umbigo é melhor que a nuca. – questionou André.
- Posso explicar?
- Deve. – responderam uníssonos.
- Não é bem a nuca. Na verdade é um gesto. Sabe quando está quente e a mulher enrola o cabelo no topo da cabeça e deixa a nuca à mostra? Pois é. É aquilo que mais me atrai em uma mulher. Aqueles poucos cabelos que teimam em não ficar no penteado improvisado -  geralmente fixo por uma caneta esferográfica – e que escorrem pela nuca são para mim a parte mais atraente. É quando a mulher, em meio a uma situação qualquer, mostra realmente quem ela é. Afinal, não é qualquer mulher que enrola o cabelo e assume que o ambiente está quente e que quer ficar mais à vontade. E mais, muitas vezes a nuca traz consigo uma tatuagem que revela ainda mais a personalidade daquela mulher. Já vi de tudo: fadas, rosas, estrelas, nomes (muitas vezes de marido ou filhos) e numa delas tinha até uma frase bem sugestiva: “Beija-me”.
Neste momento percebo que todos observavam atentamente a minha filosofia sobre como uma nuca feminina era capaz de tantos encantos. Até os copos de cerveja tinham sido esquecidos sobre a mesa.
- Agora é sua vez, Carlos Alberto. O que mais te atrai em uma mulher?
- Espera um minuto que essa daí da frente tá enrolando o cabelo. Olha só, olha só... Surgiu uma estrela! A nuca, definitivamente a nuca.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Turbulências

Nunca gostei muito de viajar, apesar de adorar conhecer lugares e, principalmente, gente nova. O que me incomoda é a viagem. O avião é tenso, o ônibus é cansativo e o carro é entediante. Para mim, uma das maiores invenções da humanidade seria a máquina de teletransporte: apertar um botão aqui e chegar, num piscar de olhos, no outro lugar. Mas enquanto isto não acontece, continuamos nos meios de transporte convencionais.
Toda vez que viajo penso logo em quem vai sentar ao meu lado. Será uma moça bonita (esta é sempre a minha primeira opção)? Um cara que dorme a viagem inteira e nem sequer dá um “boa tarde”? Uma mulher com bebê de colo? Uma pessoa acima do peso que toma todo o assento dela e uma parte significativa (geralmente o apoio do braço) do meu?
O momento de sentar e esperar quem vai ficar ao meu lado é muitas vezes mais tenso que  uma decolagem no meio de um temporal.
- 21B?
A pessoa tem escrito na passagem, tá registrado acima do assento e ainda pergunta?
- Assento 21B?
Putz e ainda insiste. Levantei a cabeça e fiquei mudo. Mas não de raiva, era contemplação. Uma jovem linda, ruiva, cabelos soltos, estilo intelectual e parecida com uma executiva (percebia-se pela roupa que usava). Perfeita (tomara que não tenha pensado alto).
- Desculpa insistir, mas este é um assento 21B?
- Humrum  (como é que se responde desse jeito?).
- Obrigada.
E agora? A mulher perfeita estava ali do meu lado. Como agir? Como começar uma conversa em um avião? Eu estava preparado psicologicamente pra um gordo e não para aquela situação.  Instruções dadas, balinhas de caramelo distribuídas, “atenção tripulação decolagem autorizada” e ...
- Posso segurar a tua mão?
- Ah? (Como é que eu não desenvolvo uma conversa?)
- É que tenho medo da decolagem.
- Claro, sem problema. Eu também estou um pouco tenso.
- É. Tem medo de viajar de avião?
- Não. Estava tenso por outro motivo.
- Ai meu Deus!
- Que foi?
- Esta é a pior parte: quando o avião acelera e se prepara pra deixar o solo.
- Fique tranquila. (E dei uma apertadinha mais forte na mão dela para ela sentir segurança).
Ela cerrou os olhos, apertou bem forte a minha mão e decolamos.
- Moça, já pode abrir os olhos.
- Por quê? A gente já chegou?
- Não. A gente tá longe ainda.
- Você se incomoda de eu ficar segurando a tua mão? Sinto-me mais segura. Sei que não adianta nada na prática, pois se o avião estiver com algum problema, você não vai poder fazer nada, mas me sinto melhor assim.
- Sem problema. Tem certeza que quer só segurar a mão?
- Como assim?
- Encosta a cabeça no meu ombro e tenta dormir um pouco.
- Não, não!
Será que tinha sido atirado demais?
- Tá bom, então fiquemos só assim.
E conversamos muito sobre nossas vidas, medos, angústias, sonhos - só fomos interrompidos pela aeromoça que insistia em oferecer pão gelado com mortadela fria e refrigerante quente -  e  ela sempre segurando a minha mão. O voo durou duas horas.
- Pra mim, pousar é pior que decolar.
- Não se preocupe. Pode continuar segurando a minha mão.
- Obrigada, você é muito gentil. – falou soltando um lindo sorriso pra mim.
Mão apertada, avião em solo e era hora de arriscar um voo mais alto naquela relação. Foi quando percebi que o céu para mim não era tão de brigadeiro. Quando ela soltou a minha mão, vi uma aliança em seu dedo.
- Muito obrigada mesmo. Foi um dos voos mais tranquilos que já fiz na vida.
- Pra mim também. Pena que a vida continue ainda cheia de turbulências.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Pura amizade

A amizade entre homens e mulheres sempre foi algo muito questionado. Pelas mulheres, é claro.
- A Margarida é realmente só sua amiga ou tem algo mais?
- Como assim “algo mais”? Amizade pra mim é tudo
- Sei. Rum. Vai me dizer que você nunca pensou em dar um cheiro a mais na Margarida?
- Não estou entendendo aonde você está querendo chegar com este questionamento.
- Tá, Paulo Ernesto! Eu quero saber se ela é sua amiga ou mais que isto.
- Defina o “mais que isto”, porque, pra mim, mais que amiga só namorada e até onde eu sei este cargo é ocupado por você.
- Quero saber se já rolou algo entre você e ela, é isso.
- Não.
- Não, o quê Paulo Ernesto? Não rolou ou não vai me contar?
- Olha, isso não tem nada a ver.
- Como não tem nada a ver? Eu sou tua namorada e exijo saber.
- Como assim exige? Pois tá bom, não rolou nada. É pura amizade.
- Defina pura amizade.
- Definir pura amizade? Como assim? Olha, acho melhor a gente encerrar esta conversa por aqui.
- Pois eu não acho. Pura amizade é diferente de amizade pura. Esta é sem maldade, já aquela...
- Você tá insinuando que a Margarida e eu já tivemos um caso, é isso?
- Ou tiveram ou ainda tem.
- Como assim ainda tem?
- Então tiveram?
- Eduarda, para com isso agora. Não quero brigar com você esta noite.
- Ah, não? E por quê?
- Estamos com visita na sala. Não seria bacana a gente vir pegar um vinho na cozinha e voltar pra sala de cara fechada.
- Eu não ficarei de cara fechada. Voltarei alegre, linda e sorridente.
- Quer saber? Não vou responder e vou voltar pra sala com o vinho pra visita que já está esperando a gente a um bom tempo.
- E vou ficar sem resposta?
- Tchau. Vou pra sala.
E saiu com uma garrafa de vinho e duas taças.
- Então, está servida? – perguntou Paulo Ernesto.
- Oh, Paulinho. Você trouxe justamente o vinho que mais gosto. Lembra que a gente tomou uma garrafa todinha naquele réveillon que passamos na praia?
- Claro que lembro, Margarida. Jamais esqueci aquele réveillon.
Enquanto isso, Eduarda estava na cozinha ouvindo a conversa do namorado com a amiga e dizendo baixinho:
- Pura amizade...