segunda-feira, 25 de abril de 2011

Uma simples caminhada

Até hoje ninguém entende o sumiço do Carlinhos. Bom marido, filho atencioso, profissional competente, era aquele sujeito que todo mundo considerava “gente boa”. Nunca faltava à missa aos domingos, cavalheiro daqueles de abrir a porta para suas companhias, sincero sem ser grosseiro, gentil, enfim o tal “genro que toda sogra sonha em ter”, o “filho perfeito”, “o homem ideal”. O grande erro de Carlinhos era justamente não ter defeitos – pelo menos não aparentemente.

Carlinhos jamais faltava as festas de família, nunca esquecia o aniversário dos amigos, do casamento, levava o filho para passear enquanto a esposa estava no salão tudo conforme reza o estatuto do bom homem. Ele jamais infringia regras, mas eis que um dia...

Não era nenhuma data especial. Não era aniversário de ninguém, nenhum membro da família ou amigo havia morrido ou nascido. Era um dia normal, como normal era a vida de Carlinhos. Dalva, sua esposa, nunca esquecera.

-Amor, vou caminhar um pouco!

Colocou um tênis, roupa leve, deu um beijo em sua cabeça e disse: “Até breve”.

Passou pela sala, acariciou a cabeça do filho que assistia a TV e saiu pela porta. Já era tarde! Muitas vezes acontecia de Carlinhos sair para caminhar na pracinha que ficava próxima à sua casa e ficar conversando e divertindo os amigos que lá encontrava. Por isso, a esposa não estranhou quando ele não voltou cedo. Carlinhos não era de fazer besteira.

Mesmo quando Dalva passou a mão no lado da cama e percebeu a não presença dele, ela estranhou. Era comum ele dormir na sala, pois não queria atrapalhar o sono da esposa que dormia profundamente àquela hora.

Somente pela manhã, quando percebeu que ele não fizera o café para o casal é que ela notou que algo estava errado.

- Amor?

Silêncio.

-Carlinhos? Onde você está? Tudo bem?

Silêncio.

- Você viu seu pai?

-Não. Ele nem foi me acordar hoje!

- Deve ter ido trabalhar mais cedo. Mas ele não comentou nada comigo...

Mais tarde, ela resolve ligar para o trabalho de Carlinhos e descobre que depois de 10 anos de dedicação à mesma empresa, sem nunca ter faltado ou chegado atrasado um dia sequer, ele não havia ido trabalhar.

E aí começaram as ligações. Casa da mãe, do melhor amigo, da avó que ele costumava visitar sempre, nada.

E mais ligações, desta vez para Polícia, Hospital, UTI, nada, nenhuma notícia...

Onde ele andaria? Com quem? Estaria morto ou finalmente teria despertado para a vida? Continuava em sua caminhada? Por que ele fizera isso? Perguntas eram muitas, respostas... nenhuma.

E assim se passaram: horas, dias, semanas, anos e anos sem notícia do Carlinhos.

Amigos mais próximos nunca souberam explicar direito o que acontecera. Alguns diziam que ele estava cansado da vida medíocre que sempre levara. Um dia finalmente ele resolvera ouvir o “capetinha”- aqueles de desenho animado que sempre estão próximos ao nosso ouvido – e deixar para trás aquela vida certinha demais, perfeita demais ...

De que adiantava abrir portas para os outros se na vida de quem ele realmente gostaria de entrar a porta estava sempre fechada? Pra que ser gentil, arrancar gargalhadas dos outros, se a vida nunca o fazia rir? O que importava estender sua mão  para tantas pessoas, se os outros só ofereciam socos? Carlinhos estava cansado... só podia ser!

A esposa jamais o esquecera e sempre perguntava: “Por quê?” Os amigos sentiam falta daquele camarada que sempre chegava com uma piada, um sorriso e sempre questionavam o que havia acontecido. Nos jantares da família, sempre havia aquele sentimento que Carlinhos apareceria da sua longa caminhada. O filho lembrava o pai atencioso e sempre ia caminhar na praça ao lado da casa na esperança de que um dia seus caminhos se cruzassem.

A longa caminhada de Carlinhos talvez não tivesse um fim, ninguém sabia o motivo nem o objetivo. Se a sua vontade era deixar de ser coadjuvante na história dos outros e passar a ser protagonista de sua própria história, finalmente ele teria conseguido. Toda grande jornada começa com um primeiro passo!

...

Passados alguns anos, Dalva preparava o jantar para seu neto que chegaria dali a alguns instantes. Seu filho, como sempre fazia aquela hora, estava na praça caminhando. E eis que o noticiário da noite anuncia a curiosa história de um homem que estava percorrendo o interior do Mato Grosso do Sul. Ninguém sabia exatamente quem ele era, mas já havia virado uma espécie de lenda por onde passava. A única coisa que diziam a seu respeito é que ele falava coisas bonitas e mensagens boas enquanto caminhava. Sempre gentil e com um sorriso no rosto, cumprimentava a todos e seguia caminhando.

Dalva parou em frente à TV para acompanhar a reportagem. Sentou calmamente e pensou: "Será?". O repórter contava, através de depoimentos das pessoas, a saga do homem que caminhava. No fim, eis que finalmente o repórter cruza o caminho dele. Câmeras posicionadas, microfones a postos...

- Cheguei, vovó, cheguei!

- Hã, sai da frente Carlos Neto!

- Não vovó, me dá um abraço!

- Sai da frente, a vovó quer ver a reportagem!

- Ah, não, vovó!

- Carlos Neto, me devolve esse controle...  Poxa, por que você desligou? Liga, por favor!

Quando a TV é ligada novamente, o jornalista está encerrando a reportagem com a imagem do homem de costas caminhando em direção ao Horizonte. Somente aquela cena e o som dos passos... Sempre caminhando, sempre em frente...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Um certo diálogo

- Ei, chega mais, chega mais...

- Que foi?

- Vem logo... Olha isso!

- O que é?

- Tá a fim de experimentar?

- Não sei, acho perigoso. Acho que pode machucar?

- Basta tomar cuidado!

- Tenho coragem não!

- Como não? Já estivemos em situações muito piores...ou melhores!

-É verdade, mas nunca usando isso.

- Eu vou encarar!

-Vai só!

- Tem certeza que não vai?

- Claro, cê tá doido! E se chega alguém?

- Aí que o negócio fica bom. A adrenalina vai ser maior! Bora, bora?

- Tá bom, mas esteja preparado para as conseqüências...
...

...

- E aí?

- Nunca mais!

- Sério? Eu gostei!

- Eu também, mas jamais faria de novo.

- Não mesmo?

-Não mesmo!

- Ei!

- Que foi?

- Chega mais, chega mais...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Dura separação!

Se unir duas pessoas é  difícil, imagine então separar. Um dos momentos mais delicados após o fim de um relacionamento é a separação dos bens. Não a casa, o carro, com quem fica a TV de plasma, nada disso. O bicho pega mesmo quando temos de separar CD’s, DVD’s e livros. Pelo menos no meu foi assim...

- Oi, bom dia!

- Olá.

- Vim pegar alguns livros e CD’s que ainda ficaram na sua casa.

- Fique à vontade. Se precisar de alguma coisa, estou na cozinha! – disse ela meio contrariada.
E lá fui eu para a árdua tarefa. Livros de contabilidade, cálculos, auto-ajuda, alguns clássicos de literatura ficaram na estante. Para a caixa foram crônicas, contos, livros da época da faculdade – que não teriam nenhuma serventia, mas não queria deixar com ela – e é claro, minha coleção de Revista Placar.

- Quer conferir?

- Não faço questão! – disse ela, enquanto fazia uma cara de espanto vendo eu guardar minha coleção de clássicos da literatura espanhola.

- O Gabriel vai com você?

- Quem?

- O Gabriel Garcia Marquez.

- Claro que vai! Foi presente de formatura da minha mãe.

- Deixa pelo menos um pra mim.

- Qual?

E claro que ela escolheu justamente aquele que lemos juntos...

Segui calmamente para a estante de CD’s . Clássicos para ela, rock para mim, MPB da velha guarda na estante, a nova geração encaixotada e aí chegou no samba...

- Quer me ajudar a separar estes?

Olhos assustados e passos apressados vindos da cozinha.

Os clássicos do Noel, Pixinguinha, Nelson Cavaquinho estavam quase todos encaixotados, mas aí veio ela...

- Ah, esse não!

- Como não? Foi presente seu pra mim?

- Mas logo o Paulinho da Viola?

Até então estava tudo certo na separação. Ela tinha ficado com a casa, eu com o carro, valor da pensão estabelecido, mas veio o Paulinho da Viola.

- Não tem acordo, ele vai comigo!

- Ah, por favor!

- Não!

Os olhos dela ficaram marejados.

Liguei a TV, coloquei o CD no aparelho e disse:

- Senta aqui, vamos escutar pela última vez juntos!

Pior é que o CD começava com “Dança da Solidão”: “Meu pai sempre me dizia/ Meu filho tome cuidado/Quando eu penso no futuro/ Não esqueço o meu passado/ Desilusão...”.

Sentados ali, lembramos dos bons momentos que passamos juntos e quando menos esperávamos já dançávamos e ríamos daquela situação.

Última faixa: “Sinceramente / Não sabia que seria assim/Esta chaga dentro do meu peito/Uma dor que nunca chega ao fim/ Este amor foi demais pra mim”. Paulinho cantava exatamente o nosso sentimento.

Fim do CD!

- Toma, pode ficar!

Peguei a caixa de livros, dos CD’s e fui cantarolando rumo ao carro: “Mas é preciso viver, e viver não é brincadeira não...”

terça-feira, 12 de abril de 2011

A culpa é tua!

Na vida, a toda hora somos obrigados a fazer escolhas. O que vestir,  o que comer, com quem sair, pra onde ir, por que fazer... Por mais complicada ou simples que a decisão possa parecer, uma coisa será sempre igual: a culpa e a conseqüência da decisão é toda sua! Seja sobre as escolhas que te fizeram (ou fazem) mal, ou pelas escolhas que te agradaram.

A gente tem a mania de sempre colocar a culpa do nosso infortúnio nos outros. Se formos demitidos do trabalho é porque o chefe não ia com a nossa cara. Se o namoro não deu certo é porque o outro não soube nos valorizar. Se o fulano bebe demais é devido às más companhias (percebem que nunca questionam se o sujeito gosta realmente de beber?).  É um tal de “se” pra lá “se”pra cá, sendo que única certeza que temos de guardar é que a decisão cabe a nós.

Se naquele dia eu tivesse voltado para casa, certamente não estaria passando por isso. A nós é dada a oportunidade de escolha.

Ao invés de procurar nos outros a culpa dos nossos problemas, coloquemo-nos em frente ao espelho e encontremos o culpado de toda essa agonia, angústia, sofrimento, tristeza e todos os sentimentos bons contrários aos que foram citados. Afinal, nem toda escolha é errada.

Não sei se vou ou se fico? Vou de encontro ou corro antes? Sigo ou paro? Falo ou me calo? Digo ou faço? Não sei... Mas tenho de escolher!

A verdade é que do jeito que estão as coisas, não dá para continuar. Preciso tomar uma decisão!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Novos Sabores

Passado o desafio do primeiro encontro, resolvi encarar a jornada gastronômica que ela me propôs. Deveríamos conhecer a culinária de outros países percorrendo bares e restaurantes de nossa cidade. Depois do japonês, encarei o tal do tailandês, me engasguei com um bacalhau português, sofri demais com a pimenta mexicana, me senti o próprio sheik saboreando comida árabe, adorei o tempero italiano, tive nojo de algumas, outras foram até saborosas... 

A coisa ficou tão séria e o relacionamento tava um negócio tão maluco que ela descobriu um hippie que sabia preparar um prato típico da Papua Nova-Guiné numa longínqua praia ... Claro que fomos experimentar! E claro, mais uma vez que me dei mal!

Mesmo tendo passado por essa aventura, continuava achando que ela era a mulher da minha vida. Era o namoro com mais sabores diferentes que eu tinha experimentado até então.  Mas a conquista de outra pessoa –como o próprio nome sugere – exige uma disputa por território, caso contrário não seria conquista.  Era hora de eu me vingar!

- Posso escolher onde vamos almoçar hoje?

- Sim, claro! Sempre esperei que me surpreendesse com isso (Ela já tinha se tocado de que eu estava fazendo tudo aquilo não pela culinária, mas por ela). Pra onde vamos?

- Surpresa!

Levei-a um dos pontos mais tradicionais da cidade de venda de comidas típicas. Panelada, buchada, rabada, feijoada e tantos outros “adas” que o final só poderia ser também com uma boa ... Deixa pra lá!

- O que é isso? – Ela perguntou

- Ah, amor! É uma buchada!

- Do que é feito?

- (Nem eu mesmo sabia). Experimenta você vai gostar!

Sentamos à mesa e comecei a grande ofensiva pra saber se aquele relacionamento teria um sabor doce ou amargo. A buchada é um negócio meio esquisito. A comida é cozida dentro do bucho do animal. O garçom me explicou baixinho... Ela vem em um formato de bola e é costurada! Enquanto eu tentava descobrir como abrir aquela jeringonça, minha estimada companheira partia a dela com garfo e faca, sem se sujar e dizia:

- Hum, muito bom!

“Pois é, né?” . Se pelo menos eu tivesse conseguido comer, seria excelente.

- O que mais tem no cardápio? – agora sim ela desafiou.

E aí foi um massacre. Comeu feijoada, se lambuzou com a panelada, adorou a rabada e lá pelo fim veio o tiro fatal: galinha à cabidela. Só de pensar que o pobre animal virava refeição no próprio sangue, me dava náusea. Mas ela não quis saber... Comeu! E de um jeito que me surpreendeu.

- Posso segurar a coxa?

Ela segurou. Comia e deixava só o ossinho da pobre galinha! Depois de quase uma hora experimentando novos sabores veio o decreto.

- Adorei a ideia da comida regional. Bela supresa! Muito obrigado! – Terminou de falar, passou um guardanapo pela boca que ainda tinha resquícios  do molho da cabidela e me deu um beijo.

É , eu tinha encontrado uma pessoa que daria um sabor diferente à  minha vida!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Primeiro encontro

Lição número um quando for jantar pela primeira vez com uma pessoa pela qual está interessado: nunca a deixe escolher o local onde vocês vão comer.

Já que não sou muito de surpreender as mulheres, resolvi delegar a minha companheira a missão de escolher onde iríamos jantar. Não que seja intolerante a algum tipo de comida, mas a gente sempre fica meio receoso, pois de repente ela pode dizer: “Adoro comida mexicana, bem muito apimentada!”. Logo pra mim que não sou muito chegado à pimenta.

Mas não foi o caso.

- Boa noite, tudo bem?

- Tudo ótimo. Pra onde vamos?

- Você gosta de comida japonesa?

Depois de dois segundos de silêncio...

- Gosto.

Faz menos de um mês que resolvi experimentar a culinária oriental. E comecei mais por pressão dos outros do que por vontade própria. Nunca esqueço o dia em que todos na mesa comiam sushi e sashimis e eu me deliciava com uma sopa de feijão. “Sopa é coisa de velho”, dizia uma amiga mais próxima.

Mesmo temendo algo, resolvi encarar. E lá fomos nós. O nome do restaurante parecia ser mais assustador do que a comida que estava prestes a ser servida.

Chegamos, sentamos e antes que eu começasse a conversa ela me perguntou:

- Pra iniciar um tataki, tudo bem?

“O quê?”. Pensei eu!

- Tudo bem, adoro (apesar de não ter a menor noção do que estava prestes a ser servido).

O prato – na verdade era uma tigelinha – chegou e até que me surpreendi. Tava gostoso e até que consegui me entrosar logo com o hashi (aquele pauzinho com o qual os japoneses comem).

Conversa vai, conversa vem, e ela resolve pedir um tal de sunomomo.

“Que diabéisso?”. Pensei!

E lá fomos nós. Esse “sei lá o quê” desceu com mais dificuldade. Quem sabe com um pouco de catchup ou maionese teria ficado mais fácil.

- E agora, vamos pedir o quê?

Olhei no cardápio e não entendia absolutamente nada. Agenomo, Yakimono, Nabemono, Sashimi, Sushi, Inarizushi, Makizushi, Nigirizushi, Karaage, Shikasashi, Okonomiyaki, Gyudon. O que eu ia pedir se não sabia nem o que era?

- Pode escolher, confio em ti (nem tanto).

- Vamos de temaki, ok?

- Ótima escolha (espero)!

Veio um negócio com o formato de sorvete, mas passava longe do prazer de um. Era tão complicado de comer como difícil entender do que era feito. Enfim...

Ela comia com uma satisfação tão grande e com uma desenvoltura de quem estava há anos saboreando a culinária japonesa, enquanto eu estava louco para pedir uma colher já que o hashi começava a se vingar de mim.

- Adorei - disse ela - estava tudo maravilhoso! Você gostou?

- Sim - disse eu, enquanto mais uma vez um pedaço de peixe cru me escapava daquele maldito pauzinho! 

- Muito obrigado por tudo. Quando poderemos nos ver de novo?

- Quando você quiser.

- Pode ser na quinta?

- Claro, mas por que quinta?

- É o dia em que aquele restaurante tailandês oferece um prato delicioso.

-Ah, tá!

Que no próximo ano, pessoas não sejam só estatísticas

2010 bem que poderia ser descrito por números. Até o último final de semana, os números da violência na Capital cearense e sua Região Metropolitana fizeram as estatísticas atingirem o patamar de 1.806 homicídios somente neste ano. Um crescimento de 27% da quantidade de assassinatos em relação a 2009.

Além disso, nas rodovias federais o aumento do caso de acidentes com vítimas fatais é assustador. Em 2009, 141 pessoas morreram nas BRs que cortam o nosso Estado. Até o último feriadão, 266 pessoas perderam a vida nas estradas federais. Quase o dobro!

E não para por aí. Diariamente noticiamos a escalada de violência contra as mulheres (somente no primeiro semestre deste ano foram 76 assassinadas, sendo que o número deve estar bem maior), crianças e outras minorias (o número de homossexuais mortos a cada ano só aumenta, foram 200 na última década). Falamos de percentuais, “mais uma”, “de novo”, e tudo vira estatística.

O governo trabalha com estatísticas, pessoas viram números e nos esquecemos das histórias de vidas dela. Quem foram os jovens assassinados vítimas das drogas este ano em nosso Estado? Por que preferiam a “pedra do cão” ao banco de uma escola? Quais seus sonhos, suas angústias? E as mulheres que foram assassinadas por pessoas que juravam amor? Vale a pena somente mostrar que a violência cresceu através de números, ou seria muito mais chocante se conhecêssemos a história de vida dessas mulheres. Por que é tão difícil para o homem entender que uma mulher não o ama mais?

Por que já não nos chocamos mais e entedemos apenas como “mais uma”? Ninguém pode ser mais um. Não queremos que mortes, acidentes, agressões, abusos sexuais virem meras estatísticas. Eu não sou um RG ou um CPF! Cada um é um ser próprio, com identidade, sonhos, angústias e uma história única que não podem ser resumidas a um único número.

Meu desejo para 2011, é que não nos tornemos estatísticas. Não quero ser apenas mais um que fica indignado com tanta violência. Espero que consiga…

As lições da venda do Campo do América

Os campos de futebol de várzea são celeiros de talentos. Neles, as crianças dão os primeiros passos para se tornarem futuros craques. Os jovens podem – ou pelo menos deveriam – ser observados por “olheiros” e garimpados por grandes clubes.

Na várzea, joga-se de pés descalços, sem aquela preocupação com o calor, nem muito menos com a torcida. Lá joga o time com camisa contra os sem-camisa, os casados contra os solteiros, os bêbados contra os sóbrios, enfim. Aprende-se a driblar não somente os adversários, mas principalmente as dificuldades de um campo onde a grama é escassa ou simplesmente não existe. E quem joga bem em um campo de várzea em pouco tempo vira um craque em um gramado de futebol.

Resolvi tocar nesse tema após vir à tona a polêmica em torno do leilão do campo do América. O leilão já foi suspenso, tudo bem, mas bem que os gestores públicos poderiam aproveitar essa oportunidade e discutir com a sociedade de forma mais séria e profunda a criação de espaços de lazer e esporte para a nossa infância e juventude.

Seria bom se em cada bairro de Fortaleza houvesse equipamentos esportivos à disposição da população. Pista de cooper ou de skate, quadras poliesportivas, piscinas públicas, quadras de areia ou mesmo campos de futebol.  Os jovens utilizariam seu tempo ocioso não para beber em bar, ou cair na tentação das drogas, mas para praticar esportes. Nossas crianças e jovens seriam mais saudáveis, nossos adultos menos obesos e as pessoas da terceira idade condições de praticar esportes sem depender de academias particulares.

Não podemos nos esquecer que em 2016, o Rio de Janeiro será sede das Olimpíadas e seria vexatório para o país investir tanto em infraestrutura e esquecer de aplicar os recursos também na formação de atletas. Afinal, acredito que temos condições de ser um país olímpico e não simplesmente o local onde serão realizados os Jogos Olímpicos.

Por isso, espero que toda essa mobilização em torno do campo do América sirva de ponto de partida para que outros espaços para a prática esportiva surjam não apenas em Fortaleza como também em todo o interior do Estado.

O tiro certeiro

A blusa branca manchada de sangue que deveria simbolizar a chegada de um novo ano de paz e prosperidade, de repente ficou marcada pela violência estúpida de jovens que não têm noção do que é amor ao próximo. Como se explicar treinar tiro ao alvo em um pobre homem que guardava carros? O tiro foi certeiro. Não acertou apenas o olho do guardador de carros, mas atingiu em cheio a nossa sociedade. O que acontecerá com os jovens atiradores? Dá pra acreditar na Justiça em um caso desses? Será que este caso vai virar exemplo ou tornar-se mera estatística?

Na semana passada duas notícias chamaram bastante a minha atenção. No domingo, dia 7 de novembro, um grupo de cinco jovens voltava de um campeonato de paredão de som (leiam bem – campeonato de paredão), a 140km por hora, na BR-020 quando o carro colidiu na traseira de um caminhão. Resultado: todos morreram. É a juventude que não respeita leis, nem aceita que o seu limite é quando começa o limite dos outros.

O outro caso foi o de um grupo de jovens que voltava de uma farra. Como o carro quebrou, eles resolveram esperar a oficina abrir consumindo drogas, dentro do veículo, em uma movimentada rua de um bairro nobre da cidade. Resultado: um dos jovens acabou morrendo por overdose.

Afinal que juventude é essa? Pessoas que atiram com armas de chumbinho em pessoas no meio da rua? Jovens que ultrapassam limites de velocidade sem qualquer preocupação com as suas vidas ou com a dos outros que por ali passam? Uma juventude que não teme ser punida por consumir drogas no meio da rua? Gente, que jovens são esses? Eles têm limites? Eles sabem qual o limite dos outros? Onde essa juventude vai parar? Onde nós vamos parar com essa juventude?

A cada dia, surgem novas perguntas e as respostas parecem cada vez mais escassas.  Tomara que o tiro certeiro que aquele jovem acertou no olho do pobre guardador de carros, tenha acertado também o nosso alerta de que algo tem de ser feito. Afinal, na próxima semana não quero escrever novamente sobre mais um caso de jovem sem limites.

R$ 23 milhões saem do seu bolso para manter os presos na cadeia

Nelson é um típico trabalhador do nosso imenso Brasil. Acorda cedo, toma o café apressado, beija a esposa, passa a mão carinhosamente no filho e segue para mais um dia de trabalho. Passa o dia sob duas rodas, arriscando-se entre os carros no complicado trânsito de Fortaleza. Ele tem que fazer entregas na hora adequada para que o cliente não reclame que o produto chegou atrasado. Para poder completar a renda de sua família, Nelson faz bico no fim de semana. Ele trabalha de domingo a domingo para poder juntar pouco mais de um salário mínimo por mês para casa.

Para poder dar uma boa educação para seu filho, a esposa do nosso personagem trabalha como diarista a fim de que seu rebento estude em uma escola particular do bairro e tente pelo menos ter um destino melhor que seu pai.

A vida de Nelson é a mesma de milhares de brasileiros que trabalham muito e recebem uma miséria no final do mês. A assistência do Estado para essas pessoas é praticamente nula.

Mas Nelson não imagina que o seu apurado no final do mês é bem menor do que o Governo gasta para manter um preso. Segundo o coordenador do sistema penitenciário do Ceará, Bento Laurindo, um preso custa, em média, R$ 1.480,00 para o Estado. Ou seja, quase três vezes o valor de um salário mínimo – que hoje é de R$ 510,00. O detento come, tem um abrigo, comida e algumas outras “regalias” à custa do dinheiro público. Dinheiro de contribuintes como Nelson.

O número do gasto com o sistema carcerário se torna ainda mais absurdo quando chegamos ao montante do que é usado somente com os presos em nosso Estado. De acordo com a Secretaria de Justiça, o número atual de presos nas unidades carcerárias do Ceará é de 15.677. Multiplicando isto pelo custo médio do detento, chegamos ao valor de R$ 23 milhões gastos por mês com presos no Ceará. Isso mesmo: para manter os encarcerados o governo gasta R$ 23 milhões por mês.

Muito dinheiro gasto por quem nada dá de retorno para o Estado. O ideal era que fossem feitas parcerias com empresas privadas, a fim de que presos em regime aberto ou semi-aberto tivessem oportunidade de se redimir e gerar impostos e renda. Seria dinheiro circulando fora da cadeia e não gasto dentro dela.

Uma solução para diminuir os gastos com o sistema carcerário em nosso Estado é urgente e necessária. Afinal, não é justo que o nosso querido Nelson pague impostos para um Estado que gasta um absurdo para manter um preso em uma cela e ele próprio tenha de pagar uma escola particular para seu filho, já que o mesmo Estado não garante uma educação de qualidade para os nossos estudantes.

Nosso trabalho de cada dia…

Todo dia é a mesma coisa. Basta colocar o pé na Redação  e contar os minutos (ou segundos) para a primeira chamada do dia. O telefone chama!

- TV Jangadeiro, bom dia!
- É da Jangadeiro?
- Pois não, em que posso ajudar!
-  É porque é o seguinte…

É impressionante. O telefone toca desde os primeiros minutos da manhã até as mais altas horas da noite. Nós que trabalhamos no setor da Produção somos os responsáveis por atender as ligações, trocarmos idéias e definirmos se a denúncia tem valor de notícia ou não. Os problemas são os mais variados, desde um vizinho barulhento que perturba demais a comunidade, passando por graves denúncias de postos de saúde sem médico ou de locais onde drogas são vendidas e consumidas abertamente,  e chegando até mesmo a situações engraçadas.

Uma vez uma senhora telefonou para a TV Jangadeiro para perguntar se poderia matar o marido que não a deixava a paz. Outro ligou para pedir uma reportagem denunciando a diretora de uma escola pelo absurdo cometido contra o seu filho. Segundo ele me relatou, a pobre criança soltara um inocente “pum” na sala e fora suspensa por três dias. Pode parecer engraçado, mas é de surpreender o poder que as pessoas acham que a mídia possui. A televisão, para a maior parte dos telespectadores,  tem a capacidade de resolver todos os problemas da sociedade. Mas, infelizmente, nem sempre é assim.

Por isso, o produtor tem de ser um pouco psicólogo, um pouco assessor jurídico, muito (e põe muito nisso!) paciente e extremamente perspicaz para perceber se aquela denúncia pode ou não se transformar na grande reportagem do dia.

Resolvi escrever esse artigo, pois o Blog da Janga tem como um dos objetivos aproximar mais os internautas do cotidiano das redações. De como se faz notícia, o processo de escolha se um fato vale uma reportagem ou simplesmente uma nota, as etapas de um jornal… E tudo começa, às vezes, com um simples telefonema de um telespectador. Por falar nisso, tenho de encerrar o artigo, pois estou na redação e o telefone já está tocando.

- TV Jangadeiro, bom dia!

Nossas crianças não podem virar estatísticas!

Era um sábado de tarde tranquilo, quando de repente fomos surpreendidos na redação da TV Jangadeiro com a notícia de uma criança baleada na cabeça. O alvo supostamente era o pai, mas a vítima acabou sendo a pobre criança. Graças a Deus, o garoto de apenas nove anos, sobreviveu e está bem.

Outro dia, um menino de apenas sete anos morreu após ser atingido por uma bala na cabeça. Ele estava indo assistir a um jogo de futebol em um campo de várzea próximo à sua casa, quando foi atingido pelo disparo. O pequeno Josias chegou a ser socorrido, mas acabou não resistindo.

Mais um caso grave nesta semana. Um adolescente de 15 anos trocou um inocente video game por uma arma e resolveu mostrá-la aos amigos de sala. A arma disparou “acidentalmente” e atingiu uma estudante de apenas 14 anos. Por sorte, a bala pegou de raspão.

Os casos se sucedem a cada semana e ficamos nos perguntando: quem será a próxima vítima? É a escalada da violência em nossa cidade que parece não ter fim, nem muito menos escolher as vítimas. Pena que cada vez mais sejamos testemunhas de crianças vítimas dessa situação.

Somente neste ano, 44 crianças deram entrada no Instituto Dr. José Frota vítimas de bala, a maioria entre dez e 15 anos. Um dado preocupante, pois as vítimas aparentemente nada tinham a ver com os casos. Foram balas perdidas, tiros acidentais que acabaram acertando em cheio a esperança de muitas famílias.

Chegamos ao final do mês de setembro com mais de 1.200 mortes este ano somente em Fortaleza e na Região Metropolitana. Onde vamos parar com tudo isso? Quais as soluções para essa escalada de brutalidade? Nossa história está sendo escrita com sangue e muitas vezes sangue de pessoas inocentes, de meninos e meninas que sequer tiveram a oportunidade de conhecer o que é a vida.

Tomara que os políticos que tiveram disposição e vontade para conquistar nossos votos, mostrem os mesmos sentimentos para resolver o crescimento da violência. É preciso dar um basta nisso! Nossas crianças não podem virar estatísticas!

Ceará, uma terra de obras inacabadas

É impressionante a capacidade que os gestores públicos têm de começar uma obra e não concluí-la. Basta darmos uma volta por Fortaleza para constatarmos o tamanho descaso com o dinheiro público, seja ele de origem federal, estadual ou municipal.

Quem caminha pela Avenida Beira Mar diariamente se depara com um monstro chamado Jardim Japonês, cujas obras se arrastam há mais de dois anos e não há sequer uma data para que seja inaugurado. Obra da Prefeitura. Mais uma voltinha e nos deparamos com o túnel no cruzamento das Avenidas Humberto Monte com Bezerra de Menezes. A obra aparentemente está pronta, faltaria apenas a sinalização para os motoristas. Aí é que eu não entendo: demora tanto assim para colocar placas e sinalizar o chão? Isto sem falarmos no Hospital da Mulher, uma promessa da primeira gestão da administração municipal e que parece não ter mais fim.

Mas o atraso das obras não é exclusividade da Prefeitura de Fortaleza. Quem trafega pela BR-116 diariamente sofre com a paralisação das obras do Dnit, principalmente as alças que dão acesso a duas importantes avenidas da capital: a Av. Oliveira Paiva e a Alberto Craveiro. São engarrafamentos gigantescos e desvios inimagináveis causados por uma obra que nem deveria demorar tanto assim.

E mais: tem aquelas obras que foram prometidas e nem sequer saíram do papel. As obras incluídas no primeiro Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado em 2007 pelo presidente Luiz Inácio Lula do Silva, tinham data certa para ser concluídas: 31 de dezembro deste ano. Entretanto, o cronograma continuará no papel para, pelo menos, 60  empreendimentos, que serão “herdados” pelo próximo governo. Alguns projetos já estão em andamento. Outros terão de sair do zero, como as obras de melhorias em aeroportos.  Os dados fazem parte de um levantamento feito pelo jornal O Estado de S.Paulo com base nos balanços do PAC.

Em nível estadual, não podemos nos esquecer do Metrofor. Uma obra que atrapalha a vida de muita gente que precisa desviar o caminho habitual para casa ou o trabalho e sabe-se lá quando será concluída, afinal prazos de entrega já foram adiados inúmeras vezes.

No próximo domingo teremos a oportunidade de escolher parte das pessoas que administrarão ou escolherão os destinos dos nossos recursos. Temos de estar atentos e sermos responsáveis para escolher pessoas que verdadeiramente cumpram o que foi prometido.  Afinal, de obras pela metade já estamos cheios…

Um convite especial

Um estudo inédito intitulado Índice de Generosidade Mundial, realizado pela ONG Charities Aid com base em questionários do instituto de pesquisas Gallup, apontou que o Brasil ocupa apenas a 76 posição entre os países em que a população mais gastam tempo em ações voluntárias. Os campeões da generosidade são os australianos e os neozelandeses.

Mais do que um simples ranking de países que mais uma vez coloca o Brasil lá embaixo quando o assunto é boa notícia, os dados levam a uma reflexão: nos últimos dias, meses, ou mesmo anos você dedicou algum tempo para alguma ação voluntária?

Em épocas de eleição, como a que estamos vivendo agora, costumamos supervalorizar o poder dos políticos, como se só eles fossem capazes de resolver todas as mazelas de nossa sociedade. Acredito que estamos errados. Para alterar nossa realidade, precisamos, antes de tudo,  mudar as nossas atitudes diante dos próximos. Quantas vezes passamos horas em um bar com os amigos bebendo e gastando dinheiro, quando poderíamos passar o mesmo tempo com a mesma galera nos dedicando em um trabalho voluntário em uma ONG, distribuindo cestas básicas, brinquedos (o Dia das Crianças vem aí) ou mesmo um sorriso?

Se todos nós dedicássemos pelo menos umas duas horas por mês, ou por semana (faça o horário de acordo com sua conveniência) para visitarmos hospitais, irmos a um orfanato, ouvirmos os velhinhos nos seus abrigos, fazer um mutirão de limpeza nas praias, ou qualquer outra atividade que melhor lhe convenha teríamos com certeza uma sociedade mais fraterna -  não mais justa – , mas com certeza viveríamos em um ambiente em que as pessoas se respeitassem mais.

Termino esse artigo com um convite. Veja se alguém próximo à sua casa, ou mesmo na sua família, está disposto a fazer alguma ação de solidariedade para o Dia das Crianças. Nesta quinta-feira cada um pode transformar uma cerveja ou um caranguejo em um brinquedo no próximo dia 12 de outubro. Se você costuma beber três cervejas, peça apenas duas hoje. E com o dinheiro da outra compre um carrinho. É simples! Para você pode parecer um gesto banal, mas para a criança que receberá esse presente, sua atitude fará toda a diferença.

Vai levar o quê, patrão?

“CD ou DVD, CD ou DVD”. “Vai um óculos aí, patrão?”. “Olha o queijo assado!”. “Picolé! Picolé!”. Frases como essas são comuns para quem freqüenta qualquer barraca na Praia do Futuro. Cada vez mais aumenta o número de ambulantes, não só naquela faixa da cidade, mas em todos os pontos de Fortaleza.

A cidade está literalmente invadida por camelôs. Onde a gente passa, os vemos oferecendo as mais variadas espécies de produtos. Para quem passa pela avenida Bezerra de Menezes, é possível encontrar desde caranguejo até luvas de proteção para motociclistas.

Basta uma rápida volta pelas principais ruas e avenidas da cidade para encontramos pessoas vendendo flanelas, carregadores de celular, pufes (até isso eles vendem), frutas da estação (quem nunca ficou com água na boca com aqueles cajus ou as siriguelas vendidas nos sinais?), rosas, raquetes para matar muriçocas, cofres  e um item que tem chamado muito a minha atenção: aqueles bonecos conhecidos como João Teimoso. De tudo é possível encontrar!

Mas o que mais me preocupa não é a quantidade de trabalhadores informais que atuam em nossa capital, mas a falta de regulamentação deles. A Prefeitura precisa urgentemente resolver essa situação. Não basta fazer uma fiscalização aqui e outra acolá, é necessário cadastrar esses ambulantes e fazer alguma ação mais efetiva para que eles parem de ocupar ruas e calçadas.

O negócio funciona mais ou menos assim. O cara vai para rua, sabe que ali pode descolar uma boa grana, no outro dia chama o vizinho, que começa a atuar no ramo, que daí chama outro e outro e por aí vai.  E fiscalização que é bom, nada! Segundo estimativas da Prefeitura, cerca de 10 mil pessoas trabalham na atividade informal, somente no Centro da cidade. A situação é grave e impõe um desafio à Prefeitura Municipal: formalização com ordenamento urbano.

O Ceará tem forte vocação para os setores de comércio e serviços. Os dois ramos, juntos, foram um dos principais responsáveis pelo crescimento de 8,92% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado no primeiro trimestre de 2010, frente ao mesmo período de 2009.

O Centro de Fortaleza é rico em potencial para a geração de emprego e renda, além de ser uma fonte de arrecadação para os cofres públicos estadual e municipal. O bairro gera cerca de 5,6% de todo o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do Estado e mantém, em média, 68,5 mil empregos diretos, conforme a Associação dos Empresários do Centro de Fortaleza (Ascefort).

No entanto, o resultado poderia ser bem mais significativo. Os camelôs fazem circular muito dinheiro em espécie, mas ficam fora das estatísticas oficias, pois não são empresas constituídas e, por isso, não prestam contas dos seus produtos. Vivem na chamada economia subterrânea.

Quando o trabalhador informal realiza sua atividade em local público sem a devida autorização contribui para a ocupação desordenada do espaço de uso comum da população. Daí a necessidade urgente de uma regulamentação. Ou no próximo sinal seremos surpreendidos com: “Vai levar o que hoje, meu patrão?”

Copa 2014: a bola já rola em outros estados e no Ceará?

O último final de semana foi marcado pelo fechamento do Maracanã para as obras da Copa do Mundo de 2014. Uma semana antes, o estádio da Fonte Nova, na Bahia, foi implodido para que ali seja erguida uma nova e moderna arena. O Mineirão há tempos está com as portas fechadas para reformas que visam também o grande evento esportivo. E o nosso Castelão, como está? Até agora não vi nem uma placa sendo afixada…

O entorno do estádio continua feio e sujo. Dentro, nem se fala. Semana passada, o secretário de Esportes ainda veio, via twitter, elogiar o gramado do Castelão como o melhor do país. Sim, mas é a mesma grama em que serão jogadas as partidas da Copa. Então é preciso arregaçar as mangas  mesmo.

Nunca é demais lembrar que faltam menos de 4 anos para o início do torneio. E mais, se Fortaleza quer se credenciar mesmo para realizar uma das semi-finais deve correr ainda mais contra o tempo. Afinal, um ano antes do campeonato mundial de seleções, é realizada a Copa das Confederações, uma competição preparatória que testa o potencial das cidades. Fortaleza, por acaso, não gostaria de participar desses testes?

A demora no início da reforma deixa uma preocupação latente: a estatização das obras da Copa.  Muito se falou que o dinheiro viria das Parcerias- Público-Privadas, mas pouco ou nada se viu em relação a isso. A iniciativa privada vê as obras com desconfiança, pois é muito investimento para um retorno a tão longo prazo. Para cumprir os prazos e não deixar a Copa fugir do Ceará, os Governos do Estado e Federal deverão derramar dinheiro, ou seja, no final das contas somos nós, contribuintes, que vamos pagar. E mais: vamos pagar para nem ver, pois os preços dos ingressos devem ser fora da realidade da maioria do povo cearense.

O Castelão será a “obra mais cara do Nordeste para a Copa de 2014″, como informou no dia 14 de maio a Folha de S. Paulo.  Inacreditavelmente, o valor da construção foi previamente definido em edital, nada menos que R$ 487 milhões, ou seja, mais do que custaram as construções do Engenhão, no Rio de Janeiro, e do Bezerrão, no Distrito Federal. E estamos nos referindo à reforma do Castelão, que estás em condições bem razoáveis e recebe jogos da Série A.

O jeito é esperar para ver quando o primeiro martelo será batido nessa tão propalada e cara reforma…

Serviços eletrônicos, o jeito é usar e rezar…

Todos os dias somos tentados, via propagandas veiculadas na mídia, a usar os serviços eletrônicos oferecidos pelos bancos. Tudo parece ser mais fácil, afinal você nem precisa sair de casa para pagar contas, tomar empréstimos, entre milhares de outros tipos de serviço. No entanto, o que parece tão simples, pode se tornar uma grande dor de cabeça.

Dados divulgados esta semana pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) indicam que os prejuízos do setor bancário com crimes eletrônicos – incluindo internet e cartões – somaram cerca de R$ 450 milhões, somente no primeiro semestre de 2010. Ainda segundo dados da Federação, o prejuízo do setor bancário em 2009 totalizou R$ 900 milhões, sendo que os investimentos em segurança na internet atingiram R$ 1,94 bilhão. A tendência, a continuar neste ritmo, 2010 chegará ao fim com valor equivalente ao apurado em 2009.

Eu mesmo já fui vítima de um desses golpistas. Era para ser uma bela manhã de segunda-feira, até que eu resolvi consultar – por telefone – o meu saldo bancário. Resultado: conta negativa! Corri para uma agência e verifiquei o extrato. A malandragem tinha fito um empréstimo, sacado todo o montante e ainda rasparam minha conta, incluindo o saldo que tinha no cheque especial. Perdi uma manhã inteira na agência tentando explicar que não havia sido eu quem tinha feito o empréstimo. O dinheiro foi devolvido, mas o tempo que perdi não. E com certeza todo mundo conhece alguém que já sofreu esse tipo de golpe.

A pergunta que eu faço é: o que fazer? Se o sujeito faz a transação pela internet pode ser vítima de um hacker. Se acha mais seguro ir a um caixa eletrônico pode ter o cartão clonado por uma máquina que tem o sugestivo nome de “chupa-cabras”. E se, enfim, resolve sacar o mísero dinheirinho no caixa da agência corre o risco de ser assaltado na saída do Banco.

Estamos reféns de bandidos que usam da violência, mas também daqueles que usam a inteligência para levar nosso tão suado dinheirinho do final do mês. Resta a nós termos cuidado quando formos utilizar os meios eletrônicos oferecidos pelos bancos e rezar para que não sejamos a próxima vítima.

Incentive o seu filho a praticar esportes

Tenho um filho de oito anos cuja maior diversão é ficar em frente à televisão assistindo aos desenhos animados e seriados infantis (pelo menos eu acho que ele assiste a isso). Até que tento incentivá-lo  a brincar com os amigos que passam o dia correndo, mas quando ele resolve sair… logo volta com toda a tropa para assistir ao programa preferido dele.

Na semana passada ele me surpreendeu quando me chamou para participar de uma maratoninha em sua escola. Nem pensei duas veze e aceitei o seu convite. No próximo sábado estaremos participando de uma saudável competição entre pais e alunos no Parque do Cocó.

Acho importante a iniciativa de sua escola de incentivar a prática de atividades esportivas entre as crianças. Um relatório da Internacional Obesity Task Force (IOTF) de 2003 para a OMS estima que aproximadamente 10% dos indivíduos entre cinco e 17 anos apresentam excesso de gordura corporal, sendo que de 2% a 3% são obesos.

No Brasil, o modelo vem se repetindo, como foi identificado na Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002/2003 realizada pelo IBGE, que apontou excesso de peso em 40,6% da população. Na faixa etária pediátrica, estudos nacionais encontraram excesso de peso com variação de 10,8% a 33,8% nas diferentes regiões.

Ou seja, nossas crianças estão cada vez mais “fofinhas”. Mas a fofura dos nossos pequenos não é sinônimo de beleza, mas de preocupação. Os dados que eu apresentei são de sete anos atrás, imaginem então como está agora? Muitos pais substituem um bom passeio pela praia, por ficarem embaixo da barraca comendo caranguejo enquanto o menino enche o bucho de picolé, bolinha de queijo, batata frita…

A preocupação já é tão patente que já virou até mercadoria. Algumas iniciativas acontecem neste final de semana como a Corrida Beach Park, no sábado, e  a Maratoninha da Caixa, no domingo. Promove-se a saúde e consegue arrecadar uma graninha.

Tomara que iniciativas como esta sejam cada vez mais comuns e nós, pais, possamos incentivar a participação das crianças nelas.

Afinal, melhor que ter um gordinho e bom de apertar é ter um filho forte e saudável que pode te carregar no colo.

Se é para desfazer, por que se faz?

A semana está quase no fim, mas a notícia que mais me intrigou foi dada no início dela. Após ter sido concluído, o calçamento de alguns trechos do canteiro central  da Avenida Bezerra de Menezes está sendo retirado para colocação de postes e da fiação elétrica. Mais do que estranhamento, o fato me deixou indignado.

É um absurdo você pensar que as ações da Prefeitura não têm planejamento. Como assim, só depois da obra ficar pronta é que se percebeu a necessidade de colocar-se iluminação no canteiro central? A desculpa foi que com as luzes a visibilidade e a segurança da ciclovia melhoraria. É nada!!!

Mas, gente, será que na Prefeitura não havia um ser pensante que percebesse, antes da obra ser concluída, de que era necessário colocar umas luzinhas ali? Trata-se de uma ciclovia que certamente será utilizada à noite por trabalhadores que são obrigados a irem de bicicleta para o emprego, porque não tem o dinheiro do ônibus. É tão difícil perceber isso? Ou a ciclovia foi feita para ser utilizada somente de dia?

Apesar do presidente da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania (AMC) afirmar que a não houve falha de comunicação com o Programa de Transporte Urbano de Fortaleza (Transfor) – responsável pela obra -, pelo menos para mim, fica clara a falta de planejamento por parte da Prefeitura. Se eu fosse gerente do Transfor teria ligado na hora para a AMC e dito: custava avisar? “Se é para desfazer, eu nem teria feito!!!”

Fica patente também o descaso com o dinheiro público. Desfaz-se o que já estava pronto, gastando nosso suado dinheirinho, pagando trabalhadores para colocar postes que já deveriam estar lá.

Enfim, assim seguem os projetos da Prefeitura, sem planejamento – isso fica claro no descumprimento dos prazos das obras – , sem fiscalização por parte dos órgãos competentes e com a população encontrando na imprensa o único meio de denunciar e mostrar a sua indignação.

Eleição não rima com poluição

Lá estou eu, bem deitado no meu sofá, assistindo a um bom filme quando de repente passa um carro de som estridente dizendo: “Contra o mal, vote no candidato fulano de tal!”. Mas pior que a zuada feita pelo carro de som são as músicas que eles utilizam para tentar convencer o eleitor. Quase sempre são versões de músicas chatas, com zero de  originalidade, tudo vai mesmo na base do “embromation” para tentar conseguir o seu voto. Haja ouvido e paciência para escutar tanta baboseira!

E mais, a gente vai andando pelas ruas e vê um bocado de gente espalhada nos sinais distribuindo panfletos  dos seus respectivos candidatos – que se não forem da preferência dos eleitores fatalmente serão jogados ao chão -  e balançando bandeiras que nada comunicam, só poluem visualmente a cidade. Isso sem falar em umas estruturas de madeiras colocadas principalmente nos canteiros centrais de determinadas avenidas ou em calçadas que tomam o lugar já tão escasso do pobre pedestre.

Os candidatos precisam tomar consciência de que o eleitor deve ser conquistado e não forçado a votar neles. Afinal quem gosta quando alguém chega gritando em sua residência, joga pedaço de papel no chão e te atrapalha quando você está tentando andar pela sua casa? Eleição não rima com poluição!

Por isso, é preciso não deixar se empolgar por um jingle bonitinho ou por um candidato bem aparentado na foto distribuída na esquina. Vamos ouvir o que eles têm de propostas para melhorar o nosso Estado ou o país. A propaganda eleitoral começa na próxima semana e precisamos estar atentos aos que aquelas pessoas que querem nos conquistar tem a nos dizer.

Uma cidade verdadeiramente bela e amada

É verdade! Teresina é quente mesmo! Aquela história de que o urubu só voa com uma asa lá porque com a outra fica se abanando, só não é verídica pois o pobre pássaro ainda não desenvolveu tal habilidade. Se pudesse, com certeza o faria. Mas o que mais me impressionou em minha estadia na capital piauiense não foi a temperatura elevada da cidade – sempre acima de 30º -, mas o seu modelo de gestão.

Sou de Teresina e me sinto à vontade para poder falar. Para mim, só há dois motivos que podem levar alguém à capital do Piauí: ou é para visitar um conhecido ou para fechar algum negócio. Ninguém vai àquela cidade para fazer turismo. Mas nem por isso a Prefeitura deixa de pensar no crescimento da cidade.

Novas avenidas são abertas constantemente para desafogar o trânsito caótico que é típico das cidades hoje. Além disso, pontes estão sendo construídas também pensando no deslocamento dos cidadãos, uma iniciativa excelente sendo que Teresina é cortada por dois rios (Parnaíba e Poty) e para ir de um local para outro da cidade é quase obrigatório passar sobre um deles. Enquanto em Fortaleza, nossa Autarquia de Trânsito o máximo que faz é inverter o sentido de ruas e implantar sinais.

A cidade é limpa, avenidas largas, trânsito tranquilo e, repito, tudo isso para uma localidade que não tem vocação turística. Todas as ações são voltadas para quem mora lá e não são maquiagem para turista ver como observamos constantemente em Fortaleza.

Uma rápida passagem no Centro de Teresina também me deixou boquiaberto. Calçadas padronizadas e acessíveis para deficientes físicos e visuais. A tal acessibilidade que tanto os gestores de Fortaleza falam e pouco fazem para que ela se torne possível.

E mais, não há ambulantes vendendo produtos no meio da rua. Lá foi construído um shopping popular na beira do Rio Parnaíba (um dos cartões postais da cidade), com uma estrutura excelente (bancos, elevadores, escadas rolantes e uma praça de alimentação onde se come bem) e sem qualquer confusão com associações de ambulantes disto ou aquilo. Lembrei-me do Beco da Poeira que demorou anos para ser desocupado e ainda não oferece as condições adequadas para os pobres permissionários.

Bem que os gestores da capital alencarina poderiam dar uma olhadinha por cima da Serra de Ibiapaba e ver o modelo de gestão que ali é aplicado. Teresina, enfim uma cidade verdadeiramente bela e amada.

Violência se combate com giz ou com porrete e armas?

Tá bom, comandante-geral do Ronda do Quarteirão, Werisleik Matias,  o trágico episódio que vitimou o adolescente Bruce Cristian reflete o despreparo do policial Yuri Silveira, autor do disparo, e não da Polícia. Mas quem foi mesmo que colocou esse policial despreparado nas ruas?

O acusado tem 25 anos e estava no Programa Ronda do Quarteirão desde 2007. Ou seja, em três anos nas ruas, esse camarada não havia descoberto ainda como manusear uma arma a ponto de ela ser apontada em direção a um suspeito, sabe-se lá de que forma, e ser disparada “acidentalmente”?

Sei que vários questionamentos serão feitos sobre a formação dos policiais – o que já era patente desde as primeiras “barbeiragens” cometidas pelos jovens que assumiam os volantes dos 4X4. Mas quero refletir sobre as ações que são feitas pelos gestores públicos não para garantir segurança, saúde e educação para os cidadãos, mas para angariar votos.

Afinal, por que as pessoas votariam em um candidato que não comprou uma viatura nova, não construiu uma escola ou hospital? Investir nos servidores públicos é o que menos interessa. O que importa são ações midiáticas. Para que eu vou investir na formação de um policial por dois ou três anos, se eu posso chamar toda a imprensa para o pátio do meu palácio e mostrar as novas e possantes viaturas que irão equipar a Polícia? Investir em inteligência por quê? O que me interessa é colocar armas sofisticadas nas mãos de policiais que sequer sabem manusear uma serra de cortar pão.

E mais, isso me traz voto. É assim que pensam os nossos gestores.Mais do que lançar um programa de segurança comunitária e encher as ruas de policiais, os gestores poderiam ter investido mais em qualificação e mesmo em remuneração. Afinal, o que temos assistido é o nascimento de uma polícia que se corrompe muitas vezes por um cafezinho no boteco do Seu João. Você me garante a merenda que eu passo mais vezes em frente ao seu ponto. Ou não é assim que acontece?

Nossos gestores podem até negar, mas contra os fatos não há argumentos. Muitos inauguram postos de saúde ou hospitais que sequer contam com médicos para atender os cidadãos. A população não reclama da falta de hospital, mas da ausência de profissionais de saúde. Se estes recebessem a valorização necessária, os postos poderiam até não ter a estrutura adequada, mas o atendimento seria com certeza bem melhor. No entanto, prédio traz voto, valorizar os profissionais não.

Você sinceramente acha que é mais vantagem para um candidato dizer que inaugurou trinta escolas ou que capacitou professores? Pouco importa se o aluno está aprendendo ou não. O que me interessa é que a escola é linda e está localizada em uma comunidade carente. Afinal, construir escolas dá voto, já cidadãos conscientes vão pensar duas vezes antes de votar.

Enquanto nossos gestores pensarem em ganhar eleições e não em resolverem os problemas cotidianos de nossa população vamos ficar assistindo a tragédias como a que ceifou a vida do adolescente Bruce. Vamos continuar combatendo a violência não com giz, mas com porrete e armas.

Opinião: Buraco na rua – um problema que não para de crescer

Mesmo de férias, não consigo me despir do espírito de jornalista, ainda mais quando vejo que coisas simples de nossa cidade não são resolvidas na velocidade que merecem.

No início de junho, o Jornal Jangadeiro exibiu uma reportagem que mostrava os riscos dos motoristas que trafegam pela av. Rogaciano Leite. Lembro bem que eu mesmo fui checar com a Regional o prazo para que o problema fosse resolvido. E estava lá: segunda quinzena de junho.

Só que para a minha indignação – não falo surpresa pois já não me surpreendo com a lentidão dos nossos gestores públicos – o buraco deu cria. Isso mesmo! Já estamos na segunda quinzena de julho – um mês após o prazo que a SER VI deu para resolver o problema – e a galeria que passa por baixo da avenida cede um pedaço a cada dia.

Eu me pergunto: Ninguém vê um negócio daquele? O risco de acidente é iminente. Para desviar do buraco de quem segue no sentido Cidade dos Funcionários, o motorista praticamente invade a pista do sentido contrário. Detalhe: no sentido contrário também há um buraco. É um tal de desvia pra lá, puxa pra cá que faz com que codutor que trafega diariamente pelo local redobre a atenção.

Como diria minha companheira Katiúzia Rios: “Gente, pelo amor de Deus!”. Será que por ali nunca passou um carro da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) para que perceba o risco de acidentes naquela avenida? Será que nunca passou pela local um secretário da Prefeitura e se indignou com uma situação como aquela?

Como ninguém resolve a questão, vou assumir um compromisso de adotar o buraco. Enquanto ele existir, vou insistir para que ele seja tampado. Não simplesmente jogar areia e asfalto por cima, mas um trabalho realmente sério para que nos primeiros pingos d’água que caírem não culparem a chuva pelos estragos nas vias. Circulo por aquela avenida toda semana e não vou sossegar enquanto não ver o problema resolvido.

Como bem disse no começo, estou de férias e estou indignado como cidadão pois vejo os problemas da cidade surgindo e ninguém se mexendo para resolvê-los.

Solução para o fim da greve

Nesta segunda-feira (14), completa uma semana da greve dos motoristas, cobradores e fiscais de ônibus em Fortaleza. Já são sete dias em que cerca de 250 mil pessoas acordam mais cedo na cidade para pegar sua tão lotada condução. Desta vez, lotada e atrasada.

E mais: os passageiros saem sem saber como voltar. Filas intermináveis, empurra-empurra no terminal, sufoco para subir na condução nas paradas de ônibus, enfim… a segunda-feira começará com mais sufoco para os fortalezenses.

Enquanto isso, o Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários (Sintro) e o Sindicato das Empresas de Ônibus (Sindionibus) não conseguem chegar a um consenso sobre a Convenção Coletiva de Trabalho. Será tão complicado assim dialogar? Parece que para essas duas partes sim. Tanto que o Ministério Público, Tribunal Regional do Trabalho e a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) tem tentado aproximar os Sindicatos.

Mas eu tenho uma solução para acabar com a greve. Basta que esses cidadãos que estão envolvidos na greve aceitem o desafio de ir trabalhar de ônibus. Vamos ver os senhores de ternos e gravatas se espremendo na fila do terminal da Parangaba, que tal?

Os secretários do governo municipal poderiam encarar chegar ao trabalho em um dia de greve de ônibus. Daí eles sentiriam na pele que uma paralisação (mesmo que parcial) como essa é extremamente prejudicial à população. E não só a ela. O comércio já registra queda nas vendas em mais de 40%. Portanto, não se trata somente de um impasse resolvendo duas partes que infelizmente não conseguem dialogar, mas de uma questão que envolve toda a cidade.

Vamos lá, gente! Acordem amanhã às 5h30min e peguem um ônibus para ir ao trabalho. Se ele demorar a passar, aproveitem para subir numa topic bem lotadinha. Daquelas que o trocador fica gritando: “vai mais pra trás que ainda cabe!”.  O desafio está lançado!!! Encontro vocês na parada do Grande Circular!!!

Texto publicado no Blog da Janga

Qual a alternativa dos alternativos?

Para quem sofre diariamente com o caos no trânsito de Fortaleza, a pergunta é uma só: o que fazer? Abrir novas ruas, rodízio de carros, apelar para a “carona amiga”? Sou do time que acredita que um investimento maciço em transporte coletivo seria a solução mais viável para tentar amenizar os congestionamentos que “pipocam”em nossa cidade.

Sou usuário do transporte coletivo. Pior, sou usuário do transporte alternativo. Sintam só a minha saga. Caminho diariamente cerca de 1km para pegar uma topic no início da linha e ter o privilégio de ir sentado até minha casa. Estrategicamente procuro uma cadeira próxima à porta para não ter de ser espremido quando tiver de descer. Mas antes mesmo de chegar à metade do caminho, o tal alternativo já está bem lotadinho.

Mesmo com gente pendurada na porta a gente sempre escuta o coitado do trocador dizendo: “Afasta um pouquinho para trás que ainda cabe”. E o passageiro desesperado lá atrás responde : “Cabe mais não, motorista”. E não cabe mesmo!!!

A situação é tão braba que aquele que ergue a mão para segurar na barra da topic não pode se dar sequer o privilégio de colocá-la no bolso ou dar uma coçadinha nas costas, por absoluta falta de espaço. O calor logo incomoda e irrita as pessoas e o trocador dizendo “pra trás, pra trás…”. Meia hora depois desço depois de gritar educadamente (como se isso fosse possível): “Paradinha aí na próxima!”. E todo o dia eu pergunto: o que há de alternativo no transporte alternativo?

Pra mim o transporte alternativo seria aquele que daria para você, cidadão, a alternativa de deixar seu carro em casa e seguir para o trabalho em um veículo confortável e seguro. Podia ser algo que você pagasse mais caro – uma passagem de R$3,00, por exemplo – mas que oferecesse a possibilidade do cidadão não usar o seu transporte.

Haveria menos carro nas ruas, pessoas chegando menos estressadas no trabalho, seria bom até para o meio ambiente com menos gases poluentes sendo jogados na atmosfera.

Acho que não estou inovando com essa idéia, só não queria mais ter de hoje gritar educadamente de novo: “Na próxima desce!!!”.

Que policiais são esses?

Graças a Deus, nunca estive sob a mira de uma arma. Nem quero imaginar a sensação de impotência de saber que minha vida estaria no limite de um simples movimento do dedo indicador. Mas o que é ruim, pode ficar pior…

A seguinte situação aconteceu com minha esposa. Diariamente, ela percorre menos de dois quilômetros até chegar ao trabalho. Na última sexta-feira, prestes a passar pela guarita de entrada da instituição em que trabalha ela foi abordada por quatro homens fortemente armados. Mas ao contrário do que vocês possam estar pensando era uma viatura da Polícia Militar.

Eles logo foram batendo no vidro e perguntando de quem era o carro “roubado” que a “suspeita” conduzia. Um carro comprado – e diga-se de passagem ainda estamos pagando as pesadas prestações – com o dinheiro que ganhamos honestamente. Eles, não satisfeitos, perguntaram de onde ela estava vindo. Atordoada com toda a situação, ela disse que vinha de casa. E para completar mais uma surpresa: o policial disse que todos que moram próximos à área do Castelão são suspeitos. Como assim?

O história narrada nada mais é que um capítulo do triste preparo dos policiais em nosso Estado. Ao contar o fatídico episódio aos colegas de trabalho, as histórias de abordagens semelhantes feitas pela mesma PM se multiplicaram em poucos minutos. Que policiais são esses?

São os mesmos que consideram “suspeitas”as pessoas que moram nas proximidades do estádio, mas que são incapazes de fazer ações para inibir o tráfico de drogas na mesma região. Ou pior, são os mesmos que assistem dia-a-dia menores de idade vendendo o pequeno corpo ao longo das avenidas
Paulino Rocha e Alberto Craveiro.

É triste e revoltante saber que os “profissionais” que deveriam proteger os cidadãos, são os mesmos capazes de te apontarem uma arma a caminho do trabalho.