segunda-feira, 18 de abril de 2011

Dura separação!

Se unir duas pessoas é  difícil, imagine então separar. Um dos momentos mais delicados após o fim de um relacionamento é a separação dos bens. Não a casa, o carro, com quem fica a TV de plasma, nada disso. O bicho pega mesmo quando temos de separar CD’s, DVD’s e livros. Pelo menos no meu foi assim...

- Oi, bom dia!

- Olá.

- Vim pegar alguns livros e CD’s que ainda ficaram na sua casa.

- Fique à vontade. Se precisar de alguma coisa, estou na cozinha! – disse ela meio contrariada.
E lá fui eu para a árdua tarefa. Livros de contabilidade, cálculos, auto-ajuda, alguns clássicos de literatura ficaram na estante. Para a caixa foram crônicas, contos, livros da época da faculdade – que não teriam nenhuma serventia, mas não queria deixar com ela – e é claro, minha coleção de Revista Placar.

- Quer conferir?

- Não faço questão! – disse ela, enquanto fazia uma cara de espanto vendo eu guardar minha coleção de clássicos da literatura espanhola.

- O Gabriel vai com você?

- Quem?

- O Gabriel Garcia Marquez.

- Claro que vai! Foi presente de formatura da minha mãe.

- Deixa pelo menos um pra mim.

- Qual?

E claro que ela escolheu justamente aquele que lemos juntos...

Segui calmamente para a estante de CD’s . Clássicos para ela, rock para mim, MPB da velha guarda na estante, a nova geração encaixotada e aí chegou no samba...

- Quer me ajudar a separar estes?

Olhos assustados e passos apressados vindos da cozinha.

Os clássicos do Noel, Pixinguinha, Nelson Cavaquinho estavam quase todos encaixotados, mas aí veio ela...

- Ah, esse não!

- Como não? Foi presente seu pra mim?

- Mas logo o Paulinho da Viola?

Até então estava tudo certo na separação. Ela tinha ficado com a casa, eu com o carro, valor da pensão estabelecido, mas veio o Paulinho da Viola.

- Não tem acordo, ele vai comigo!

- Ah, por favor!

- Não!

Os olhos dela ficaram marejados.

Liguei a TV, coloquei o CD no aparelho e disse:

- Senta aqui, vamos escutar pela última vez juntos!

Pior é que o CD começava com “Dança da Solidão”: “Meu pai sempre me dizia/ Meu filho tome cuidado/Quando eu penso no futuro/ Não esqueço o meu passado/ Desilusão...”.

Sentados ali, lembramos dos bons momentos que passamos juntos e quando menos esperávamos já dançávamos e ríamos daquela situação.

Última faixa: “Sinceramente / Não sabia que seria assim/Esta chaga dentro do meu peito/Uma dor que nunca chega ao fim/ Este amor foi demais pra mim”. Paulinho cantava exatamente o nosso sentimento.

Fim do CD!

- Toma, pode ficar!

Peguei a caixa de livros, dos CD’s e fui cantarolando rumo ao carro: “Mas é preciso viver, e viver não é brincadeira não...”

8 comentários:

  1. Muito bom, de novo! Pra variar...
    Um dia hei de aprender a escrever assim.
    Abraço e excelente semana!

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  2. Transformar um momento tão delicado em pura poesia! Falou baixinho e falou bonito! Gosteis demais! Vou retuitar NOW!

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  3. Orgulho do meu chefe de reportagem. Tu és bom e sensível, criança!

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  4. Eltim, q texto lindo. Simples, doído, porém leve. Leve como você.

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  5. Owwww...concordo plenamente com tudo. Quando se separa, o pior são os bens...

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  6. Meu irmão, que texto emocionante. Não sabia que você tinha um blog, mas depois desse texto, me tornarei visitante assíduo. Orgulho de ser seu irmão.

    JE

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  7. ainn... lindo ou triste? os dois ao mesmo tempo.... mas colocar algo triste dessa forma tornou o texto mais belo! =)

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