segunda-feira, 23 de maio de 2011

Redes Sociais

Hoje em dia não basta terminar o relacionamento e dizer.

-Nunca mais venha atrás de mim! Não me ligue mais!

Hoje é preciso dizer: - Não me ligue mais, me exclua do seu Orkut, não quero mais ser seu amigo no facebook e pare de me seguir no twitter.

Fim do amor na era pós-moderna requer também a exclusão da pessoa de todas as suas redes sociais. Ou vai me dizer que mesmo com o fim do relacionamento você não acaba dando aquela espiadinha no perfil do seu ex?

Com a minha foi assim. No dia em que saí de casa, após longos e bons anos de casamento, coloquei no Orkut: solteiro! Entre as várias perguntas como “O que houve?”, “É verdade?”, “Amigo, acho que invadiram o seu perfil, coisa de hacker com certeza”, “Ufa, até que enfim né?”, a que mais me chamou a atenção foi a da minha ex.

- Poxa, mas logo no primeiro dia?

- Mas foi você quem disse que não tinha volta.

- Mas no primeiro dia?

Enfim... A vida seguiu e sempre estranhei as visitas que algumas amigas próximas dela faziam ao meu perfil nas redes sociais.

Outro dia, criei um perfil no twitter para poder acompanhar notícias e fofocas a respeito de tudo e de todos. Essa sensação de você estar sendo seguido por centenas de pessoas é meio estranha. Dia desses comecei a conversar via facebook com uma menina que me deu uma cutucada (será que não tinha outro jeito menos incômodo de chamar atenção, afinal odeio quem me cutuca). Papo vai, papo vem e ela:

- Soube que você saiu com a Alessandra?

- Soube? Como?

- Tá lá no perfil dela: “Noite inesquecível na companhia de @eltonviana”.

- Ela escreveu isso?

- Sim, tá lá!

- Mas a sua noite pode ser mais inesquecível que a dela...

- Sei...

Acabamos o papo deitados na rede, abraçadinhos, aqui na varanda do meu apartamento.

Os relacionamentos através das redes sociais começam da maneira mais esquisita.  Você nunca viu a criatura, não sabe nada sobre ela (uma olhada básica nas comunidades que ela participa é sempre revelador) e geralmente informações como idade, peso e altura (esta última bastante importante para mim) a gente costuma dar uma melhoradinha. Um centímetro a mais aqui, dois quilinhos a menos acolá e a data de nascimento que nada condiz com a foto são mais que comuns. Mesmo sabendo dos riscos, resolvi arriscar.

Com umas me dei bem, outras eu exclui logo na primeira conversa, outras me deletaram me chamando de “mentiroso”, enfim continuava à procura de alguém que fique conectado a mim.

Foi pensando nisso que acabei procurando alguém que não entendesse nada de internet. Agora pra mim a mulher perfeita deveria pronunciar a seguinte frase: “Ah, esse negócio de computador não é para mim!”.

Assim encontrei Isaura na fila de um supermercado preenchendo um cadastro para um sorteio de um Ipad.

- Aqui pede um tal de e-mail. Eu não tenho!

- A senhora não tem? – respondeu a funcionária da loja

- Não, por quê? Algum problema? Odeio esse negócio de internet, computador, meu negócio é olho no olho.

Saiu sem preencher a ficha completamente. Ouvi aquela frase de longe e corri para tentar puxar conversa de alguma forma. (Explicação! Tenho um defeito: nem tudo aquilo que escrevo tenho coragem de falar. Meus últimos relacionamentos sempre vieram através das redes sociais e no ambiente virtual não sou tímido. Tanto que a frase que mais escuto quando encontro a garota pessoalmente é: “Nossa como você é diferente!”. Enfim, voltemos ao supermercado!)

- Os ovos! (Meu Deus, como é que se começa um diálogo desse jeito)

- O quê?

- O empacotador colocou os ovos na parte de baixo do carrinho, podem quebrar!

- Ah, obrigada!

- Quer ajuda para carregar as compras? Não cobro nada! (Mal sabia ela que iria pagar um preço alto por aquilo: me aturar).

E fomos até o carro. Claro que puxei uma conversa!

- Preencheu a ficha do sorteio?

- Eu não! Pedia e-mail e odeio internet. (A frase de novo!)

Compras no porta-malas, elogios feitos, telefones trocados, aperto de mão e enfim tinha encontrado a mulher perfeita.

Era tão avessa a internet que um dia fui surpreendido com uma carta escrita à mão na minha caixa de correios. Nada de seguir em twitter, nenhuma cutucada no “face”, se fosse desonesto poderia até deixar no meu perfil a palavra “solteiro”, afinal ela nunca acessaria mesmo.

O namoro ia bem, até que ela começou a trabalhar em uma empresa de consultoria. O salário era excelente, poderíamos começar a planejar um casamento, mas sempre tem uma desvantagem.

- Amor, lá na empresa disseram que eu preciso estar envolvida com as redes sociais. Preciso que você me ajude com isso, pode ser?

- Como assim?

- Twitter, facebook, Orkut, MSN, tudo isso que eu não entendo absolutamente nada e agora preciso entender. Você me ajuda né?

Isaura foi contratada e em pouquíssimo tempo já assumia a função de gerência na empresa. Ficou conhecida por sua habilidade em fazer relações através das redes sociais. Enquanto isso, estou solteiro de novo...

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Cuba: a revolução

Ernesto nunca pisou em solo cubano, jamais comungou dos ideais socialistas da ilha, mas foi por causa de Cuba que aconteceu a grande revolução do seu casamento. Não exatamente por causa daquele pequeno país da América Central, mas por causa da bebida que leva o mesmo nome.

A tal Cuba Libre talvez seja a bebida mais contraditória que existe. Afinal leva o nome de um país que ficou marcado por ter adotado o regime socialista, sendo que é preparada com rum e Coca-Cola – uma das marcas do capitalismo. Talvez seja por isso que só mesmo a Cuba Libre foi capaz de libertar uma pessoa tão contraditória como a Carminha foi naquele dia.

Até aquele fatídico dia, Carminha se orgulhava de nunca ter bebido. Uma vez, vendo Ernesto tomar uma caipirinha resolveu provar.

- Vixe! É forte, né?

E desde então nunca mais ela fora visto sequer experimentando qualquer bebida.

Mas o casamento dos dois – que já durava oito anos – estava caindo na rotina. O único beijo que eles trocavam durante o dia era quando Ernesto saía para trabalhar. Quando voltava para casa, já de noite, ela estava ocupada demais fazendo as contas e gritando com o Claudinho, filho deles.

- Oi, amor! Boa noite! – falava Ernesto aproximando-se do rosto de Carminha. Quando os lábios estavam próximos de se tocar...

- Claudinho, menino! Desce do sofá agora!

Era mais uma tentativa frustrada de beijo!

- Olha, Ernesto! Esse menino tá cada dia mais impossível!

Algo precisava ser feito. Mas Ernesto, como a maior parte dos homens, não sabia o que fazer. Foi então que Carminha resolveu tomar a iniciativa.

Era uma sexta-feira 13. Logo cedo Carminha despachou Claudinho para a casa da irmã, com a proposta de suborno para a sobrinha cuidar do menino malino.

- Te dou R$ 50,00 e um vestido novo! - disse para a sobrinha que apenas sorriu feliz!

Ernesto chegou à casa, estranhou a meia-luz e as velas espalhadas pela sala.

- Boa noite, amor! Tá faltando energia?

- Não insensível. Preparei uma noite especial para nós! – E deu um beijo nele como há tempos não dava. Um BEIJO mesmo, maiúsculo, intenso, forte. Assustado, Ernesto perguntou:

- O que houve?

- Nada, cansei da nossa vida medíocre. Precisamos revolucionar!

- Como assim, Carminha?

- Ernesto, faça jus ao seu nome. Um revolucionário argentino! Vamos mudar tudo em nossa relação. Chega dessa história de fingimentos que nos acostumamos a viver. Basta de dizer que está tudo bem, quando na verdade nosso casamento não existe há tempos. Quero beijos quentes e molhados e não uma bitoquinha seca com gosto de pasta de dentes. Não quero mais visitar sua mãe todos os domingos. Quero um jantar a dois, só nós! Não quero fazer amor só na nossa cama, mas em todos os cômodos da casa. Quarto, sala, banheiro, cozinha, área de serviço, até na varanda!

- Na varanda? E os vizinhos? As pessoas vendo?

- Seria uma demonstração de amor e não um assassinato! Quem sabe as pessoas vendo aquilo, seriam mais amorosas  e o mundo bem melhor.

- Que idéia é essa?

- Revolução, amor! Revolução!

- Carminha, você está bem?

- Estou ótima – e se aproximou mais uma vez dele, segurando o cabelo seu cabelo com força e se aproximando do pescoço suado dele!

- Você bebeu?

- Sim! Duas Cubas, só duas Cubas!

Estava explicado. Aquela não era a Carminha. Ou era? Afinal parece que quando a gente bebe, o ser oculto que mora em nós finalmente consegue se libertar. A bebida provoca a tal revolução que a Carminha tanto propalava! Falamos aquilo que sempre queremos, mas nos censuramos. Somos capazes de chorar copiosamente e rir sem vergonha alguma. O homem sério e educado pode se transformar num safado sem-vergonha com apenas duas caipirinhas. A mulher pura a recatada se transforma na amante quente e verdadeira – até demais!

E Ernesto estava vivendo aquilo na sua casa, tudo por causa de duas cubas!

- Vem cá! Vem cá! – Dizia a Carminha enquanto Ernesto já com a roupa toda rasgada e com os braços arranhados fugia dela.

- O que você pretende?

- Quero fazer a revolução! Venha, avante companheiro!

Não dava para ele! Aquela não era a Carmem! Era outra pessoa! Seu olhar era diferente, seus ideais não condiziam com a idéia de revolução. Sabia que o casamento precisava de mudanças, mas elas poderiam ser lentas e graduais e não através de uma revolução. Pobre, Ernesto! Pensava em uma estratégia de fuga enquanto se escondia debaixo da cama.

- Onde você está desertor? Não fuja. A revolução está por vir!

Aproveitando que ela foi servir mais uma dose, Ernesto fugiu de casa pela porta da área de serviço.

- Volta aqui! – Gritava Carmem da varanda, com os seios para fora e sempre com o copo de Cuba na mão. – Volta desertor! Hoje é a noite da revolução!

Não, definitivamente não era! Se mudanças eram necessárias, Ernesto, como bom republicano, acha que deveriam mandar primeiro um projeto de lei, negociar com os parlamentares e só então uma lei ser promulgada em que ficariam estabelecidas as regras das mudanças necessárias para que seu casamento continuasse. Nada de revolução!

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Tão diferentes...

Ah, elas aparecem! Não tem como, nem porque, nem data, sabe-se apenas que elas sempre aparecem. Falo das diferenças! E é justamente a forma como você as encara que pode fazer com que o relacionamento ganhe um gosto especial ou amargo demais.

Sabe aquela história de ela apertar a pasta de dentes no meio quando você prefere que ela seja usada de baixo para cima? Ou quando você gosta da aba do papel higiênico para cima e ela insiste em colocar para baixo? Capuccino quente o gelado? Carne magra ou gorda? Rock ou forró? Coca-cola ou suco? Praia ou serra? Fidelidade ou relação aberta? Tudo depende da sua disposição aceitar ou encarar as diferenças.

Muitas vezes criamos padrões para as pessoas com as quais queremos nos relacionar. Inventamos fôrmas e pretendemos que as pessoas se adeqüem a elas. Aí está o maior erro. Por que as pessoas têm de ser do nosso jeito? Por que tudo tem de ser na hora em que a gente quer? É esta a causa das nossas grandes frustrações!

Dia desses saí conheci uma garota que parecia ser maravilhosa. Mas, a minha fôrma era perfeita demais para ela. No nosso primeiro encontro ela foi logo mostrando a que veio. Nada daquele negócio de romantismo demais. Bebeu, fumou, me beijou, subiu no palco e cantou pra mim. No caminho para casa, ela tira o meu CD de “As Melhores da Década de 80” e põe um forró estridente em que a mulher gasguenta canta: “O galinha de hoje é o corno de amanhã!”. Aquele CD não iria chegar ao fim.

Outro dia encontrei uma que cabia perfeitamente na fôrma que eu tinha criado.

- Mas ela é parecida demais com você. Por que não dá certo?

- Por isso mesmo. Parecida demais...

Desse jeito é complicado. Nem diferente demais, nem igual demais. O legal dos relacionamentos é a descoberta. É experimentar aquilo que você jamais experimentou e mesmo não gostando, sentir-se satisfeito por ter feito finalmente algo diferente.

Era o que eu estava sentindo com a Flávia. Aquela história de descobrir algo novo não apenas no outro, mas em você mesmo. Por exemplo, existe coisa pior para os homens do que fazer comprar roupas com sua mulher? Elas passam horas, provam de tudo para, muitas vezes, escolher a primeira que tinham experimentado.

- Tinha de ter certeza, né amor? - diz ela com um sorriso pelo qual eu me derretia todo.

Com ela estava sendo diferente. Eu que nunca fui um sujeito muito paciente estava prestes a me candidatar a buda. Com ela ficava ali, horas e horas vendo-a calçar dezenas de pares de sapato.

- Esse ou aquele?

- Prefiro esse!

- Mas aquele ficou tão mais...

- Então leva!

- Mas você gostou mais desse... Ah, olha aquele da vitrine!

E ela sai para experimentar o décimo quarto par. A pobre da vendedora olha pra mim já desesperada e pergunta:

- Ela é sempre indecisa assim?

- Sempre!

- E o senhor tão paciente...

- Pois é. Nem eu sabia que era assim!

Depois de passar duas horas sentado ela sai satisfeita com apenas um par de sapatos na sacola. Agora vamos almoçar.

- Tô afim de uma saladinha!

- Tem certeza? Não seria melhor uma (estava doido por um pedaço de picanha mal passado)...

- Não. Vamos comer uma comidinha saudável!

Aquele prato verde demais me assutou, mas estava disposto a encarar.

Aí vem a surpresa!

- Sabe o que eu acho?

- O quê?

- A sandália roxa era muito mais bonita! O que você me diz?

- Mas essa que você escolheu é uma cor diferente!

- Você acha? Não devo ir lá trocar?

- Não. Adoro cores e coisas diferentes...

Tão diferentes...

domingo, 8 de maio de 2011

Substituições

A cena é clássica. O atleta rebolando na beira do campo, pronto para entrar. Sobe a placa com o número do jogador que deve deixar o campo. O substituído olha lá de dentro: “Sou eu mesmo?”, deve pensar, e sai esbravejando. Passa e nem cumprimenta seus amigos que ali estão e nunca – não adianta ser hipócrita - , nunca mesmo torce pelo sucesso daquele que entrou em seu lugar.  É mais ou menos assim que acontece  quando, após o fim dos nossos relacionamentos, descobrimos que fomos substituídos.

Saber que aquele (a) que está entrando na vida do nosso ex-amor (se é que isso existe) pode desempenhar um papel bem melhor que o que você tentou desempenhar, é meio perturbador. É caso daquele jogador que entra em campo no seu lugar, faz o gol do título e sai como herói.

Acredito que a substituição é um dos momentos mais difíceis da pós-relação. Encontrar pela primeira vez com sua ex de mãos dadas com o seu substituto é como dar de cara com o fracasso. É quando encontramos o nosso orgulho e descobrimos que todos podem ser substituídos. Não existe o tal do luto após o fim do relacionamento. Se aparecer alguém melhor que você (e no meu caso isso não é tão difícil), sua ex vai sim aproveitar a oportunidade.

Na primeira vez, você logo olha o cara de cima abaixo e pensa: “Ela me trocou por isso?”. Se o cara for bonitão, aí é que a coisa fica feia – pro seu lado é claro.

- Poxa, ele é um gato! – comenta uma “amiga” sua.

- Mas olha o cabelo dele. Certeza que daqui a algum tempo ele vai ficar careca! E ela odeia os carecas...

- Mas o cara usa rabo de cavalo!

- E daí? Olha aquelas entradas no cabelo dele! Careca, com toda certeza!

Pior é quando o cara é gente boa. Todos elogiam seu comportamento e não sabem como a sua ex perdeu tanto tempo com um cara complicado como você. O ápice da substituição do “complicado” pelo “gente boa” é quando seu filho chega de roupa nova, cabelo cheiroso e apresenta um novo brinquedo para você!

- Cara, que brinquedo bacana! Ganhou de quem, do seu avô?

- Não pai, do Alberto!

- Ah? De quem?

- Do Beto, pai, o namorado da mamãe!

E o que era um simples brinquedo vira um instrumento de tortura para você.

- Vem brincar, pai!

- Não, filhão! Acho que alguém me chamou lá dentro!

E assim a vida segue. Entra um, sai outro, daqui a pouco o que entrou pode vir a ser substituído também (quem sabe até pelo mesmo que ele substituiu) e vamos seguindo nossas vidas conforme as substituições!

Disso tudo só tenho uma certeza: aquelas entradas no seu cabelo não me enganam! Careca, com certeza!