quinta-feira, 12 de maio de 2011

Tão diferentes...

Ah, elas aparecem! Não tem como, nem porque, nem data, sabe-se apenas que elas sempre aparecem. Falo das diferenças! E é justamente a forma como você as encara que pode fazer com que o relacionamento ganhe um gosto especial ou amargo demais.

Sabe aquela história de ela apertar a pasta de dentes no meio quando você prefere que ela seja usada de baixo para cima? Ou quando você gosta da aba do papel higiênico para cima e ela insiste em colocar para baixo? Capuccino quente o gelado? Carne magra ou gorda? Rock ou forró? Coca-cola ou suco? Praia ou serra? Fidelidade ou relação aberta? Tudo depende da sua disposição aceitar ou encarar as diferenças.

Muitas vezes criamos padrões para as pessoas com as quais queremos nos relacionar. Inventamos fôrmas e pretendemos que as pessoas se adeqüem a elas. Aí está o maior erro. Por que as pessoas têm de ser do nosso jeito? Por que tudo tem de ser na hora em que a gente quer? É esta a causa das nossas grandes frustrações!

Dia desses saí conheci uma garota que parecia ser maravilhosa. Mas, a minha fôrma era perfeita demais para ela. No nosso primeiro encontro ela foi logo mostrando a que veio. Nada daquele negócio de romantismo demais. Bebeu, fumou, me beijou, subiu no palco e cantou pra mim. No caminho para casa, ela tira o meu CD de “As Melhores da Década de 80” e põe um forró estridente em que a mulher gasguenta canta: “O galinha de hoje é o corno de amanhã!”. Aquele CD não iria chegar ao fim.

Outro dia encontrei uma que cabia perfeitamente na fôrma que eu tinha criado.

- Mas ela é parecida demais com você. Por que não dá certo?

- Por isso mesmo. Parecida demais...

Desse jeito é complicado. Nem diferente demais, nem igual demais. O legal dos relacionamentos é a descoberta. É experimentar aquilo que você jamais experimentou e mesmo não gostando, sentir-se satisfeito por ter feito finalmente algo diferente.

Era o que eu estava sentindo com a Flávia. Aquela história de descobrir algo novo não apenas no outro, mas em você mesmo. Por exemplo, existe coisa pior para os homens do que fazer comprar roupas com sua mulher? Elas passam horas, provam de tudo para, muitas vezes, escolher a primeira que tinham experimentado.

- Tinha de ter certeza, né amor? - diz ela com um sorriso pelo qual eu me derretia todo.

Com ela estava sendo diferente. Eu que nunca fui um sujeito muito paciente estava prestes a me candidatar a buda. Com ela ficava ali, horas e horas vendo-a calçar dezenas de pares de sapato.

- Esse ou aquele?

- Prefiro esse!

- Mas aquele ficou tão mais...

- Então leva!

- Mas você gostou mais desse... Ah, olha aquele da vitrine!

E ela sai para experimentar o décimo quarto par. A pobre da vendedora olha pra mim já desesperada e pergunta:

- Ela é sempre indecisa assim?

- Sempre!

- E o senhor tão paciente...

- Pois é. Nem eu sabia que era assim!

Depois de passar duas horas sentado ela sai satisfeita com apenas um par de sapatos na sacola. Agora vamos almoçar.

- Tô afim de uma saladinha!

- Tem certeza? Não seria melhor uma (estava doido por um pedaço de picanha mal passado)...

- Não. Vamos comer uma comidinha saudável!

Aquele prato verde demais me assutou, mas estava disposto a encarar.

Aí vem a surpresa!

- Sabe o que eu acho?

- O quê?

- A sandália roxa era muito mais bonita! O que você me diz?

- Mas essa que você escolheu é uma cor diferente!

- Você acha? Não devo ir lá trocar?

- Não. Adoro cores e coisas diferentes...

Tão diferentes...

5 comentários:

  1. Criança, você escreve com sensibilidade.

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  2. Preciso dizer que mais uma vez adorei ?!?!?

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  3. Obrigado, meus amigos! O Blog foi uma forma de tornar o meu ócio da manhã um pouco mais criativo! Ainda bem que consigo divertir e sensibilizar vocês! Forte abraço e obrigado!

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  4. Haja paciência, realmente... rsrsrs
    Bacana, irmãozinho...
    Ócio criativo e que pode render alguns trocados. Vá pensando em reuni-los, depois, e lançá-los em livro. Qualidade tem! E amigos querendo autógrafos também!

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