Passado o desafio do primeiro encontro, resolvi encarar a jornada gastronômica que ela me propôs. Deveríamos conhecer a culinária de outros países percorrendo bares e restaurantes de nossa cidade. Depois do japonês, encarei o tal do tailandês, me engasguei com um bacalhau português, sofri demais com a pimenta mexicana, me senti o próprio sheik saboreando comida árabe, adorei o tempero italiano, tive nojo de algumas, outras foram até saborosas...
A coisa ficou tão séria e o relacionamento tava um negócio tão maluco que ela descobriu um hippie que sabia preparar um prato típico da Papua Nova-Guiné numa longínqua praia ... Claro que fomos experimentar! E claro, mais uma vez que me dei mal!
Mesmo tendo passado por essa aventura, continuava achando que ela era a mulher da minha vida. Era o namoro com mais sabores diferentes que eu tinha experimentado até então. Mas a conquista de outra pessoa –como o próprio nome sugere – exige uma disputa por território, caso contrário não seria conquista. Era hora de eu me vingar!
- Posso escolher onde vamos almoçar hoje?
- Sim, claro! Sempre esperei que me surpreendesse com isso (Ela já tinha se tocado de que eu estava fazendo tudo aquilo não pela culinária, mas por ela). Pra onde vamos?
- Surpresa!
Levei-a um dos pontos mais tradicionais da cidade de venda de comidas típicas. Panelada, buchada, rabada, feijoada e tantos outros “adas” que o final só poderia ser também com uma boa ... Deixa pra lá!
- O que é isso? – Ela perguntou
- Ah, amor! É uma buchada!
- Do que é feito?
- (Nem eu mesmo sabia). Experimenta você vai gostar!
Sentamos à mesa e comecei a grande ofensiva pra saber se aquele relacionamento teria um sabor doce ou amargo. A buchada é um negócio meio esquisito. A comida é cozida dentro do bucho do animal. O garçom me explicou baixinho... Ela vem em um formato de bola e é costurada! Enquanto eu tentava descobrir como abrir aquela jeringonça, minha estimada companheira partia a dela com garfo e faca, sem se sujar e dizia:
- Hum, muito bom!
“Pois é, né?” . Se pelo menos eu tivesse conseguido comer, seria excelente.
- O que mais tem no cardápio? – agora sim ela desafiou.
E aí foi um massacre. Comeu feijoada, se lambuzou com a panelada, adorou a rabada e lá pelo fim veio o tiro fatal: galinha à cabidela. Só de pensar que o pobre animal virava refeição no próprio sangue, me dava náusea. Mas ela não quis saber... Comeu! E de um jeito que me surpreendeu.
- Posso segurar a coxa?
Ela segurou. Comia e deixava só o ossinho da pobre galinha! Depois de quase uma hora experimentando novos sabores veio o decreto.
- Adorei a ideia da comida regional. Bela supresa! Muito obrigado! – Terminou de falar, passou um guardanapo pela boca que ainda tinha resquícios do molho da cabidela e me deu um beijo.
É , eu tinha encontrado uma pessoa que daria um sabor diferente à minha vida!
adorei o texto, o bom humor com que escreve, e leva a sua vida me inspira a ser uma pessoa melhor. Obrigada por me servir de exemplo que tudo na vida pode sempre melhorar.
ResponderExcluirLívia
Muito bom o texto. Fiquei até com vontade de fazer um tour gastronômico pela cidade. Nunca tive coragem de encarar uma buchada. Você é meu heroi hehe!
ResponderExcluire põe variedades nestes sabores... mais eclética, impossível!!! rsrsrs...
ResponderExcluire o texto, mais uma vez, está show!
Rapaz, essa sua mulher deve ser enorme de gorda: buchada, feijoada, panelada, galinha à cabidela... Nã!!!!! Acho que você se esqueceu de mencionar o bicarbonato de sódio que ela teve que tomar para dar conta de digerir isso tudo!!!!!!!
ResponderExcluirLeda