domingo, 1 de julho de 2012

Jogada desleal

Há dias Augusto César andava inconsolável. E só há duas coisas que abalam tanto emocionalmente os homens. Uma delas é quando seu time perde o campeonato que não vence há anos com um gol improvável aos 45 minutos do segundo tempo. A outra, claro, é uma desilusão amorosa.

Os últimos dias não foram lá muito felizes pro nosso querido amigo. Nosso time há anos não era campeão do grande campeonato de futebol do bairro do Limoeiro. Pra ele, que jogava como zagueiro, perder aquela competição foi pior que a morte de um parente próximo. Se isto acontecesse, boas recordações permaneceriam. Mas daquele jogo, a lembrança foi a mais amarga possível.

Final de jogo, nada de gols e a certeza de que na cobrança de pênaltis o nosso goleiro Zé do Frango (que tinha esse nome não por ser frangueiro, mas por ter um bar que vendia galeto assado) era bem melhor que o “Baixim” do time adversário. 

Aí veio o grande momento: bola levantada na nossa área. O Augusto César, que era zagueiro e conhecido como Cesão, grita:

- Deixa comigo!

Só que ao invés de jogar a bola pra fora da área, ele rebateu da dentro da própria meta. Gol do adversário! Pior que a decepção foi o atacante do time adversário que usava óculos falar bem alto.
- Obrigado, Cesão! Pena que pra vocês a fila não anda.

Nosso amigo estava tão transtornado com o que fizera que nem reação teve pra dar uns sopapos no “Ceguim”. Mas o pior ainda estava por vir.

Futebol de várzea ou acaba em confusão ou em churrasco. Pra levantar a moral do nosso estimado zagueiro, fomos pra casa do Paulinho das Vassouras (pelo nome dá até pra saber com o que ele trabalha), nosso técnico.  Carne pra cá, cervejinha pra lá, todo mundo evitando falar do maldito gol, até que a mulher do Paulinho veio da cozinha com uma amiga que fez com que o Cesão tirasse aquela cara de choro do rosto e pela primeira vez esboçasse um sorriso.

- O que é aquilo, meu irmão?

- Ah, rapaz! É costelinha de porco!

- Não, cara. Me refiro a quem está trazendo a costelinha de porco.

- Uh, rapaz! Que coisa gostosa!

- Peraí, eu vi primeiro.

- Tô falando da costelinha, Cesão. A mulher é a Jandira, que mora logo ali na rua de trás.

Ah, a Jandira! Ficava servindo e provocando o Cesão durante todo o churrasco. Mas zagueiro bom mesmo não aceita provocação e ele não demorou a chegar junto.

- Oi, tudo bem?

- Olá, você é aquele que no jogo de agora a pouco fez o gol do campeonato, né?

- Sim, fui eu mesmo, por quê? – falou Cesão já com o tom de voz alterado, afinal ninguém tinha tido coragem de tocar no assunto.

- Porque eu fiquei com uma peninha de você. Pra quem jogou tão bem, não merecia ser premiado com aquele gol contra.

- Humrum, sei...

- Você gosta de fazer marcação “homem-a-homem”? Tá a fim de me marcar?

- Nossa, você é direta.

- Não fico esperando por um gol contra aos 45 minutos do segundo tempo. Gosto de decidir logo.

E saíram decididos a viver uma grande história de amor. Por causa de Jandira, Cesão até aceitava brincadeiras sobre o fatídico gol. Foram dias em que o zagueiro vivia momentos de glória. Mas o que ele não esperava era que Jandira fizesse uma jogada desleal com ele.

- Não dá mais, Cesão!

- Como assim?

- Aquele gol contra me persegue.

- Te persegue? Como?

- Todo mundo pergunta por ele. Quer saber o que aconteceu com você naquele dia e mais, perguntam como eu posso namorar uma pessoa que deixou o Limoeiro mais um ano na fila.

- Mas, Jandira a gente se ama.

- Amo você mesmo, mas o meu amor pelo Limoeiro é maior. Não dá mais!

- Jandira...

- E mais: o que aconteceu mesmo com você naquele dia pra jogar a bola na direção do teu gol?

-Jandira, eu...

- Perdedor!

Cesão ficou inconsolável. Um gol contra e uma jogada desleal que desconcertou nosso pobre amigo.
Sentamos pra tomar uma cerveja no bar do Zé do Frango quando descobrimos que não há nada tão ruim que não possa piorar.
- Epa! O que é aquilo?

- O que Cesão?

- Olha lá, Jandira e Ceguim juntos. Como assim?

- Valei-me Cristo. É mesmo!

- Pô, mas ela me trocou logo por aquilo?

Enquanto o diálogo rolava, Ceguim com seus inconfundíveis óculos atravessava a rua. Aproximou-se de Cesão e disse:

- Me desculpa, eu me enganei! Pra você a fila anda sim!

Cesão ficou parado, olhando o novo casal sair de mãos dadas como um zagueiro que faz um gol contra em uma final de campeonato.

Nenhum comentário:

Postar um comentário