As amigas mais próximas de Amanda já a tinham alertado para o jeito um tanto quando afeminado de Fernando.
- Amiga, você não acha que o Fernando é assim... meio...
- Assim como, Alice? – perguntou a desconfiada Amanda.
- O povo está dizendo que ele não gosta muito de...
- Não gosta do que? Fala logo!
- Amanda, ele faz pilates! Você conhece algum homem que faça pilates?
- Claro que conheço. Vários. Tem o... Como é mesmo o nome dele?
- Tá vendo? Nem mesmo você sabe. Mas se eu te perguntar quem do teu setor vai jogar futebol na causa do Claúdio as quartas à noite você escala o time todinho.
- Mas é claro. Eu que tenho de ficar até mais tarde porque, quando são cinco horas, eles já estão todos de meião e chuteiras, só esperado o horário de bater o ponto.
- Pois é exatamente aí que eu queria chegar. Homem gosta mesmo é de futebol, tomar cerveja, sair com os amigos pra falar ou fazer sacanagem e com o Fernando não é assim.
- Como não? Agora mesmo, enquanto eu estou aqui contigo, ele está com os amigos dele do curso de Sensitivação Oriental.
- Curso de que?
- Sensitivação Oriental. É uma nova modalidade de autoajuda em que as pessoas contam suas experiências e angústias. Diz ele que lá as pessoas costumam se abrir para novas experiências e que tem aprendido muito com isso.
- Sei. Amanda, abre este teu olho. E a amizade dele com aquele outro lá, o tal de Renato.
- O que é que tem? São amigos, ora. Assim como eu e você.
- Amiga, ele chama o Fernando de “Fê”.
- Carinho, ué?
- E o Fernando ainda completa chamando o outro lá de “Rê”. Me poupe né?
- Ah, Alice, quer saber. Você é muito mal amada e fica com essas histórias de implicância com o Fernando.
- Vou te dar mais uma prova: o que ele gosta de ouvir? Que música ele veio ouvindo no carro quando te deixou aqui? Aposto que foi Lady Gaga.
- Ai, amiga, eu também gosto de Lady Gaga.
- Você, o “Fê” e todos os meus amigos que gostam tanto de homem quanto eu.
- Sabe de uma coisa? Não quero mais conversa com você!
- Tudo bem. Só estou te dizendo o que ninguém teve coragem. Todo mundo fica falando pelas costas. E eu tive coragem de te vir aqui e te dizer. Amiga, se é que você ainda vai continuar minha amiga, observa mais as atitudes dele. Faz um teste com ele. É isso! Faz um teste!
- Que tipo de teste?
- Pede para ele comer uma manga.
- Uma manga?
- Se ele for macho mesmo, vai comer sem se preocupar em se lambuzar todo e ainda vai tentar ficar tirando os fiapos dos dentes com as unhas.
- E onde é que vou arranjar manga uma época dessa?
- Olha só! Tá querendo fazer né? Até você desconfia.
- Chega, vamos parar com essa conversa. Até outro dia!
Amanda saiu sem se despedir de Alice. Apesar de estar querendo sentir ódio da amiga, ela ligou o desconfiômetro.
- Será, hein? – pensou.
Na volta pra casa ainda passou no supermercado. Entre uma prateleira e outra resolveu ir até o setor de frutas.
- Moço, onde eu encontro manga? – perguntou ao atendente.
- Senhora, nessa época é difícil encontrar. Só na Ceasa.
Não, não! Teste da manga, não. E ficou pensando em algumas situações que poderiam tirar a prova dos nove.
- Amor, vamos dar uma volta hoje? Só nós dois! Estou querendo uma noite bem especial com você – era o convite para o grande dia.
- Claro, baby! O Rê tá terminando um relatório aqui e hoje não tenho aula do grupo de Sensitivação, pois o mestre tá dodói. Oito horas tá bom pra você?
- Tá ótimo. Mas oito horas mesmo, tá? Porque você demora muito tempo tomando banho e acaba se atrasando.
- Demoro porque fico passando meus cremes e me preparando pra você, honey.
- Tá certo, então. Oito horas! Beijos e até mais!
- Bye, Amandita!
Enquanto se arrumava, Amanda pensava: “Rê”, “dodói”, “baby”, “bye”, “Sensitivação Oriental”. Mas será?
Fernando chegou quase nove horas.
- Vamos, baby! Me desculpa, o Rê demorou demais a entregar o relatório e não posso sair com você todo sujo e fedorento.
- Tá bom! Vamos lá!
Amanda prestava atenção em cada gesto: a mão arrumando a sobrancelha, a forma de ajeitar o cabelo como se quisesse jogá-lo pra trás da orelha (como fazem as mulheres), como sentava, andava, tudo. E pensava...
- Meu Deus, será?
No restaurante, sentados, um diante do outro, Amanda olhava fixamente para o seu amado.
- Honey, você está bem? Tô te achando tão pra baixo hoje. Me perdoe pelo atraso. Sinto muito mesmo.
- Tudo bem. Chama o garçom que quero beber alguma coisa.
- Pois não, o que o senhor deseja? – indagou o garçom.
- Me traga uma caipifruta de kiwi, com pouco gelo e adoçante. – respondeu Fernando enquanto era observado com a cara de espanto e decepção de Amanda.
- E a senhora?
- Uma cerveja, mas tem que ser bem gelada. – suspirou e questionou pela última vez: “Será?”