- Você me ama mesmo?
- Claro, ainda duvida?
- Pois prove!
Provas de amor sempre são complicadas. O amor não é uma ciência, não pode ser medido. Como a pessoa vai provar que está amando realmente? Não dá pra ir a um laboratório, fazer um exame de sangue e o médico comprovar.
- Vejo que o senhor está ligeiramente apaixonado?
- O senhor tem certeza, doutor?
- Sim, claro. Os exames mostram que ainda é bem inicial, nada contagioso.
E todos sabem que quando a gente está verdadeiramente amando, contagiamos todo o ambiente.
- Olha lá, olha lá?
- O quê, Gertrudes?
- Aquele casal se beijando loucamente. Aquilo sim é que é amor.
- Pois vem aqui e me beija!
E são várias as provas de amor que temos de dar ao longo de um relacionamento.
- Amor, nunca ganhei flores suas, sabia?
- Como não? Lembra daquele dia no sinal...
- Que o homem estava vendendo flores pro Dia dos Namorados?
- Isso mesmo! Aquilo era uma flor, não era?
- Uma rosinha muito da mixuruca!
- Mas era!
- Queria mesmo era um buquê, bem, grande, daqueles que a gente nem pode segurar por baixo, tem de abraçar.
- Pra que?
- Seria uma grande prova de amor.
- Que nada. Flores murcham e morrem. O que nunca vai acontecer com o nosso amor.
- Oh, meu tchutchuquinho. Sempre com uma palavrinha romântica.
Mulheres, principalmente, pedem as tais provas de amor a todo tempo. E não adianta fazer do seu jeito, tem do ser da maneira que ela sempre imaginou que fosse. Se é caixa de bombom, você tem de saber se ela está de dieta. Uma roupa? Pode ter certeza que o homem sempre vai errar o manequim. Um jantar romântico? Tem de saber exatamente o que ela gosta de comer (e quase sempre o homem erra). Uma pelúcia? Será que ela não é alérgica?
O amor não precisa dessas tais provas. Precisa ser vivido, simplesmente. Mas, atenção mulherada, quer uma prova de amor verdadeira de um homem? Marquem um encontro no dia e horário em que o time dele estiver disputando um jogo decisivo. Se ele abrir mão de uma disputa de pênaltis, acredite, você encontrou o homem que será capaz de tudo para manter aquele relacionamento.
Na dúvida se aquele “fica” viraria “fixo”, Jaqueline propôs um encontro para Humberto, torcedor fanático do América.
- Na Quarta?
- Por quê? Algum problema? Na quarta-feira você não tem aula!
- É que eu já tenho um compromisso.
Ela já sabia que naquele dia e na hora do encontro, o América estaria disputando as oitavas de final do campeonato piauiense da terceira divisão.
- Que compromisso é mais importante que você ficar comigo?
- Pois é, né? Mas é que ... Não é necessária minha presença lá, sabe? Mas eu tenho de dar força pra quem vai estar lá, compreende?
- Ah, o tal compromisso nem seu é? Então me esquece.
- Tá bom, Jaque. Tá bom! Vamos sair na quarta, sim.
Humberto ainda pensou em desmarcar, levar um rádio escondido, subornar um garçom pra ficar trazendo o resultado do jogo em um guardanapo, mas achou melhor não.
Saíram, riram e se divertiram. No local do encontro, nada de TV, pra não atrapalhar. Ao final:
- Muito obrigado, Humberto. Hoje eu sei que realmente você é o homem da minha vida!
- Só hoje?
- Isso, porque sei do que você abriu mão pra estar aqui comigo. Foi a maior prova de amor que já me deu.
- Sabe mesmo, amor? Você não sabe o quanto eu sofri por isso, mas está valendo a pena.
- Mas tenho algo muito sério pra te dizer.
- O que foi agora?
- O jogo foi para os pênaltis.
- Sério? Meu Deus e agora? Como você sabe?
- Pedi ao garçom que ficasse me avisando do placar pelo guardanapo. Terminou empatado em zero a zero. E agora vai para a disputa de penalidades.
- Poxa! Vou perder isso!
- Vem cá! Tenho algo aqui pra você.
- Um fone?
- Vamos acompanhar a disputa de pênaltis pelo rádio aqui, juntinhos.
O América perdeu a disputa. Bitonho, o craque do time, perdeu a última cobrança. Jaqueline e Humberto acompanharam tudo ali, de rosto colado, com a certeza de que não seria necessária mais nenhuma prova de amor para que os dois ficassem juntos.