sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Sinal dos tempos

É, amigo, o tempo passa!

Percebo que ele realmente passa depois de uma jornada de afazeres domésticos. O simples fato de varrer minha casa mostra que já não sou mais aquele ser cheio de vitalidade. Mas isso acontece não porque minhas costas doem, ou por ficar facilmente cansado, mas pela quantidade de cabelo que tenho de recolher pela casa. É fato: estou ficando calvo (Careca é uma palavra forte demais e me recuso a usá-la). Como diria a velha propaganda de shampoo: “Ei, ei, você se lembra da minha voz? Continua a mesma. Mas os meus cabelos, quanta diferença”. E que diferença!

Outro dia resolvi jogar futebol com meu filho e uns amiguinhos dele em um campinho próximo de casa. E mais uma vez recebi o sinal de que o tempo realmente passou. Com a bola dominada na defesa, olho para o garotinho lá na frente, tudo pronto para um lançamento perfeito que deixaria o pivete na cara do gol. Mas aí ele levantou a mão e gritou...

- Bora, tio, passa a bola!

Tio? Como assim, tio? O tempo em que fiquei paralisado pensando naquilo foi o suficiente para que outro garoto me roubasse a bola, me desse um drible por entre as pernas e chutasse no ângulo. Gol!

- Poxa, pai! Cê tá ficando velho, hein?

Era a sentença final!

Engana-se quem pensa que os sinais param por aí. André, um amigo que não via há muito tempo, me convida para um churrasco na casa dele.

- Vem pra cá! Chamei também toda a galera do tempo da escola para que possamos nos reencontrar! Minha família também vai estar aqui!

No dia marcado, assim que cheguei logo tive uma boa surpresa: meus amigos estavam tão carecas e barrigudos quanto eu. Sinal de que o tempo não passara só pra mim. Só mesmo o Fernando chegou lá com um corpo de dar inveja a qualquer adolescente de 15 anos.

- Dieta macrobiótica, galera!

Sei... Pra mim,  aquilo tinha outro nome: anabolizante! Mas deixa pra lá.

O teor das conversas da roda de amigos também tinha mudado. Se antes falávamos de mulheres, farras, projetos de viajar pelo mundo, hoje falamos de casamento – ou divórcios – e filhos. Daqui a pouco – eu espero que nem tão pouco assim – falaremos dos remédios que estaremos tomando para combater colesterol, obesidade, impotência (quem sabe?) e por aí vai...

Nossa amizade começou com festinha onde havia bolos e brigadeiros, consolidou-se nas comemorações de 15 anos, hoje se fortalece com os casamentos  e um dia nos encontraremos nos nossos velórios. É a vida!

Tudo ia bem no churrasco, contamos as mesmas piadas, rimos das mesmas situações em que dávamos gargalhados anos atrás, tudo na mais perfeita harmonia. Até que ela surgiu!

A Claudinha era a irmã mais nova do André. Costumávamos freqüentar a sua casa, pois era a única que tinha um espaço bacana para a gente bater uma bolinha e conversarmos besteira. E era comum a gente ver a Claudinha – ainda com três anos - passeando de calcinha pela casa. Brincávamos com ela que sempre arranjava um motivo para nos fazer rir. Era uma criança adorável, todo mundo queria pô-la no colo e mostrar aquele anjinho. Mas o que eu não imaginava era que o anjo tinha virado uma deusa.

- Rapaz, quem é aquela ali? – perguntei boquiaberto.

- É a Claudinha, irmã do André!

- Sério? Cara ela tá linda, né?

- Linda e ...

- Gostosa! – interrompi.

- Ia dizer inteligente... Com 18 anos já está no segundo ano de Medicina!

- Poxa, o tempo passa mesmo!

André se aproxima da gente e nos abraça.

- Muito bom ter vocês aqui depois de tanto tempo. Sinal que a vida passa e nossa amizade continua a mesma.

- Continua a mesma, mas a Claudinha... Quanta diferença!

Um comentário:

  1. É, camarada. Mas, o bom é que o tempo tem deixado grandes lições e tem te tornado cada vez melhor, porque tens sido sábio o bastante para aprender com todas as experiências que tens vivido. Parabéns por mais este texto, meu irmão. Sabes dar leveza e humor à vida, sem deixar de levá-la a sério!

    ResponderExcluir