terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Esse daí

O casal só é realmente um casal quando existe um apelido entre eles. Pode ser um simples “amor”, ou um angelical “anjinho”, um saboroso “docinho”, um sem gosto “chuchu” ou mesmo um “tchuchuco”. Não importa, o importante mesmo é ter um codinome. Tanto que o apelido é único. Para Maria o João será sempre o “Zinho”, assim como para ele, ela será sempre a “Zinha”. No dia em quem o João chamar a próxima namorada dele de “Zinha”, vixe. Melhor nem comentar...

É no começo do namoro que eles surgem. Geralmente associados a uma característica física, de comportamento ou mesmo aqueles que colocam nomes de casais históricos do cinema ou da História como apelidos. Eu mesmo conheci um casal que se tratava por “Bê” e “Bi”. Questionei porque eles se chamavas Antônio e ela Rosa.

- É uma referência ao filme “Bernardo e Bianca” que já assistimos várias vezes juntos. – esclareceu o apaixonado Bê.

Mas assim como o apelido marca um relacionamento, ele também pode mostrar que as coisas não estão nada bem. É quando o codinome carinhoso é substituído por um pronome demonstrativo.

- Esse daí? Nem pra acordar cedo e colocar os meninos pra tomar banho é capaz! – sentencia a mulher.

- Aquela acolá? A gente morre de ensinar como ligar a televisão e ela não aprende.

Olha, quando o seu relacionamento tiver atingido esse nível de pronome, comece ficar preocupado. O nome é demonstrativo não à toa, mas para deixar demonstrado que algo não anda nada bem entre o casal.

Ter o seu apelido carinhoso substituído por um pronome demonstrativo é bem pior que ter todo o nome dito pela sua amada, ou ex nesse caso. O importante é sentar e saber em que ponto o pronome de tratamento carinhoso foi transformado em pronome de desdém.

- Rapaz, ontem a minha esposa fez uma lasanha... Delícia!  - comentou Cláudio em uma roda de conversa entre casais.

- Pois essa daqui prefere me ver morto de fome a chegar perto da cozinha.  – Emanuel deixava claro que as coisas não estavam muito bem.

- Morrer de fome? Você? Com tanta reserva nessa barriga vai ser difícil. - ali estava claro que as coisas estavam péssimas entre Emanuel e Josefina.

E foi uma sucessão de reclamação de ambos os lados durante toda a noite. Por mais que Cláudio e Teresa tentassem mudar de assunto era uma “essa daí”, “aquele acolá” a toda hora pra quebrar o clima.

Já em casa, com os nervos a flor da pele, Emanuel e Josefina mal se olhavam. Mas um dos lados sempre está disposto a levantar a bandeira da paz. E lá foi Emanuel:

- Ei!

- Fala logo que eu quero dormir!

- Estou mesmo gordo?

- Demais. Nem suas calças cabem mais.

- Você me ajuda a emagrecer? Seria capaz de fazer uma saladinha pra mim no jantar amanhã?

- Depois de tudo o que você falou de mim lá na casa do Cláudio? Jamais!

- Poxa, Josefina (reparem que já estão se tratando pelo nome). É que vi quando a amiga da Teresa chegou e você disse: “aquilo dormindo no sofá é o meu marido”. Doeu ser considerado quase um objeto. Me senti uma mala velha. Desculpa pelo que eu falei. Não queria te magoar.

- Tá bom, amanhã eu faço tua salada. Mas é pra comer toda, viu?

- Claro, minha florzinha.

- Florzinha? Faz anos que você não me chama assim.

- Pois é, mas hoje eu resolvi chamar, porque tenho saudade do tempo que te cheirava todinha.

- Para com isso, Emanuel.

- Paro nada! Deixa eu dar um cheiro no pescoço.

- Assim não vale.

- Claro que vale. – e cheirou.

- Oh, meu ursão!

E assim, o pronome demonstrativo deu lugar novamente a um pronome de tratamento que só os dois entendiam.

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